sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Maicon, um ciclista

Não queria contar uma história triste, principalmente envolvendo um ciclista ou alguém que usa a bicicleta como um veículo integrante de seu trabalho e de sua sobrevivência.
Mas as histórias, mesmo tristes, são para serem contadas.
Vou contá-la , no entanto, por ser triste, de forma bem concisa.
Trata-se de Maicon, um jovem negro de 27 anos que apareceu, contratado como servente, numa obra que estou fazendo, em minha casa.
Vem todos os dias, quando não chove e o empreiteiro lhe dá trabalho, numa bicicleta bastante precária, de um bairro bem distante, muito pobre e muito problemático situado na zona Norte
Leva em torno de meia hora a uma hora.para chegar e, às vezes, vem mesmo quando chove. Acaba de ter um filho e um dia de trabalho conta muito.
Pois bem, um dia desses não apareceu.
No dia seguinte, contou que se deslocando na Andrade Neves , a mesma em que os moradores não querem a implantação de uma ciclofaixa, colidiu , próximo a Dom Joaquim e quando se deslocava no sentido do centro, contra a porta de um carro Corsa prata aberta pelo motorista no exato momento de sua passagem.
Por sorte não sofreu lesão grave mas teve a roda dianteira da bicicleta danificada,não permitindo seguir pedalando.
O motorista, causador do acidente, deu-lhe a título de indenização , trinta reais.
que acabou não cobrindo a despesa com o conserto da bicicleta, ainda por cima emprestada, que saiu por quarenta e cinco.
Maicon um trabalhador simples, sequer pensou que o fato merecia ao menos um registro e, conformado com sua má sorte, voltou para casa carregando a bicicleta com a roda dianteira suspensa no ar.
Somado ao prejuízo do dia de trabalho perdido, Maicon talvez tenha começado a pensar que andar de bicicleta decididamente pode não ser um bom negócio em cidades como Pelotas onde isto acaba envolvendo tantos riscos.
No outro dia, contudo, estava de novo aqui, agora em sua bicicleta própria , ainda mais precária que a primeira.
Sei que isto é de pouca ajuda mas o registro do fato e sua divulgação de alguma forma talvez possa nos fazer entender um pouco melhor a importância destes homens que em suas bicicletas simples se deslocam, aos milhares, no início e no fim dos dias, pelas ruas de nossa cidade ajudando a construí-la.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Talvez não saiba mas pode ser que tenhamos, em outros momentos, pedalado juntos. Pedalado em todos os terrenos que a bicicleta propicia entre eles os da criação e participação. Se chegou até aqui é quase certo que sim.Escreva seu comentário. Ele é parte fundamental deste processo.