sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Pedalando no Fogo

Quem more, mesmo brasileiro, fora do Rio de Janeiro, precisa de um tempo para começar a entender cenas como as que, ao longo dos anos ( e são muitos), vem se incorporando ao cotidiano da cidade.
Cenas, abertamente, de guerra urbana e que, de imediato, nos causam um misto de horror, de indignação mas também, de um certo modo, de impotência e de conformismo.
Sentados em frente ao televisor trocamos de canal quando as noticias começam a repetir-se.
E entremeados com os horários das novelas, os programas de humor ( de baixa qualidade por sinal) e as transmissões diretas de futebol, administramos os momentos reservados a presenciarmos cenas de um Brasil que é parte de nossa herança e um retrato de nossa fisionomia.
Um Brasil que não estamos tão dispostos, como queremos dar a impressão, que mude, pois isto exigiria a nossa própria transformação.
Além disto, não longe dali, na zona sul deste mesmo Rio de Janeiro, cariocas de classe média-alta e turistas estrangeiros, sob a vigilância de seguranças e policiais atentos, pegam uma praia ou pedalam com elegância na pista ao longo da orla.
Aliás, na fuga cinematográfica dos traficantes morro acima na invasão pela polícia da Vila Cruzeiro, vi homens que corriam a pé, outros que passavam velozmente pilotando motos ou camionetas.
Só não vi, presenciando aquela cena de debandada desordenada, ninguém fugindo de bicicleta.
O que me faz concuir que traficantes, talvez até por viverem nos morros, não são grandes adeptos do ciclismo.

(foto s;autor, ag. Reuters)

4 comentários:

  1. Very insane indeed. The background of this photo is the burning , in Rio streets, of buses and cars by drug gangs as a reaction to authority actions.
    As consequence of these atacks Brazilian police with the help of Army, invaded the headquarters of the drug traffic in two slums and for the first time after many years government has the control over them. But they are many and it is difficult to preview the day when living and bicycling in these places will become free of disturbs.

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  2. É lamentável, no sentido literal a palavra, que o Rio de Janeiro há muito tenha se tornado refém de bandidos e traficantes, protagonistas contumazes dessa barbárie urbana.
    Quem assiste ao noticiário com cenas de enfrentamento dos meliantes com os policiais, bem como as de ônibus e carros sendo incendiados, tem a sensação de ver um filme trash passar diante dos olhos. E é inevitável filosofar se quem nasceu primeiro foi o ovo ou a galinha. Ou dito de outra forma: quem, afinal de contas, financia o tráfico de drogas no Rio? Se há consumo obviamente há demanda...
    De todo modo, o povo carioca realmente não merece ser vítima desse emparedamento. Os pacatos cidadãos - como parece ser esse aí da foto, em sua bicicleta, tendo ao fundo a praça de guerra - que pagam em dia os seus impostos e apenas querem tocar suas vidas sem sobressaltos, estão fartos da inoperância dos governos que se sucedem e nada resolvem. Triste isso, PR! O Rio de Janeiro, contudo, continua lindo...

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  3. O Rio parece ter se tornado uma espécie de passarela por onde desfilam muitas das mazelas de nosso país... no Rio elas parecem ganhar destaque, mostram-se mais espetaculares mas também mais dramáticas... os ciclistas? sobrevivem, como os demais cidadãos, das balas perdidas, da demagogia, da corrupção...

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Talvez não saiba mas pode ser que tenhamos, em outros momentos, pedalado juntos. Pedalado em todos os terrenos que a bicicleta propicia entre eles os da criação e participação. Se chegou até aqui é quase certo que sim.Escreva seu comentário. Ele é parte fundamental deste processo.