sábado, 26 de janeiro de 2008

Calibrando os pneus

O leve sussurrar dos pneus contra a pavimentação me faz suspeitar que estão com pouca pressão.Mas ando sem bomba, terei que esperar até chegar a meu destino, uma oficina mecânica, para verificar isto.
Aliás, devo confessar que vou lá para tratar de meu veículo motorizado.
Afinal, ninguém é perfeito.
Neste momento,porém, o mais importante é avançar contra um vento leve que me exige pedalar com um pouco mais de energia.
Aproveito para ir fazendo algumas reflexões sobre minha bicicleta.
O selim é meio duro, os punhos do guidão igualmente, dou-me conta que a pretender pedalar mais, preciso ter mais conforto e, igualmente, mais eficiência.
Afinal, nada contra a tecnologia que tem sido aproveitada de forma tão decidida pela indústria de bicicletas.
O pensamento que talvez fôsse necessário ter presente, no entanto, é que estas melhorias, além de via de regra implicarem em custos bastante altos, não substituem e, talvez apenas complementem, as melhorias e os avanços que fundamentalmente são necessários na infraestrutura viária para as bicicletas.
Como justificar, por exemplo, a necessidade de amortecedores e pneus largos para transitar dentro da área urbana?
A idéia que fica ao se ver a prioridade que acessórios deste tipo passam a ter no equipamento das bicicletas, é de que as bicicletas devem estar preparadas para provas de obstáculos em meio a trilhas as mais difíceis.
Novamente, assim,fica evidenciado o modo como em nossa cultura tendemos a tomar o acessório pelo essencial, a parte pelo todo, o boato pela verdade, a retórica pelo discurso e o exibicionismo pela atração.
Bem, chego ao meu destino e trato de dar umas poucas libras a mais nos pneus antes de voltar.
Só que, desta vez, já não posso mais ouvir o sussurrar dos pneus a marcar o ritmo de meu pedalar.
Acho que vou esvaziá-los de novo...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Confissões

Queria me inspirar mas confesso que encontro dificuldades. Queria que minha cidade e a sua cultura, os seus costumes, os seus valores, olhassem com mais carinho e mais cuidado para os ciclistas e entendessem melhor o que eles podem representar de positivo, de saudável e até mesmo de divertido e poético para todos nós seus moradores.
Vejo, no entanto, que há barreiras a este entendimento, a esta compreensão.
Por isto, quando pedalo, sinto-me muitas vezes meio solitário.
Embora centenas, milhares de outros ciclistas também pedalem pelas ruas, muitas vezes não sinto que nos una mais do que a necessidade premente de nos deslocarmos a um custo que seja o mais baixo possível.
Não me dá a impressão de que os ciclistas que encontro estejam felizes.
A grande massa dos que pedalam, pelo menos em minha cidade, estão indo ou voltando do emprego e, tanto no emprego que tem ou na casa para qual retornam, são muitas as dificuldades que encontram e parte destas preocupações, certamente, viajam com eles de carona.
Além disto sua atenção tem que estar permanentemente tão requisitada para não serem atropelados e não perderem a própria vida, que parece haver pouco tempo para usufruir da incrível sensação de liberdade de pedalar.
Não queria que este fôsse um registro triste até porque falar de ciclismo e de bicicletas sempre me anima muito, mas não posso evitar.
Nestes momentos, de qualquer forma, me consola e me dá ânimo saber que em minha cidade e em outras cidades pelo mundo todo, muitos ciclistas e muitos amantes de bicicletas, superam as adversidades e lançam-se às ruas sózinhos ou em pequenos ou grandes grupos, às vezes em eventos organizados ou em manifestações, impulsionando seus veículos mágicos como quem impulsiona a própria esperança