sábado, 2 de julho de 2011

O Juizo Final


Há quem vislumbre nas grandes catástrofes sinais inequívocos da vontade divina.
Quase sempre, quando são catástrofes que penalizam pesadamente, em vidas e bens materiais, populações inteiras, sinais interpretados como de punição.
Se assim fôr cabe-nos erguer as mãos em oração e pedir perdão por nossos pecados.
Mas a maior de todas as catástrofes ainda está por vir. O verdadeiro dia do Juízo Final pode estar chegando.
A Terra será invadida por automóveis, tantos e em tal número que em seguida deixarão entupidas todas as saídas possíveis. Surgirão como uma praga de proporções dantescas. E a humanidade, sem ter como se deslocar e sem qualquer meio de transporte possivel pois até os aeroportos e portos serão totalmente tomados de carros, sucumbirá à falta de suprimentos, de comunicação e de socorro.
Apenas sobreviverão, como nas grandes hecatombes, os ratos e as baratas. Mas desta vez talvez também um punhado de ciclistas que puderem, esgueirando-se por entre os escombros e os automóveis amontoados, encontrar um trilha para a salvação.
O mundo, a partir deste dia, estaria livre dos carros para sempre.
Deles apenas restaria uma montanha de ferragens corroídas até o seu desaparecimento completo,
Enquanto pedalo e me esquivo dos automóveis , que passam em alta velocidade bem junto ao meu corpo, não mais do que meio metro,  me pergunto se estas elocubrações que me vêm à cabeça são resultado de um sonho ou se estou tendo uma alucinação.
Mas me animo e até pedalo com mais energia diante da perspectiva de que se trate de algo real e de que sua plena realização possa estar mais próxima.
Redobro minhas forças reanimado por ter o segredo, só a mim revelado, de que o reinado destas máquinas, que ao passar ao meu lado ameaçam, no vácuo, me arrancar do selim, está chegando ao fim.