sábado, 4 de fevereiro de 2012

Esperança



Tenho uma espécie de esperança, meio secreta, de que o mundo poderá ser melhor.

Conforme dizem faz muito tempo que Aquele que estava destinado a nos salvar já nos visitou mas os homens continuam explorando uns aos outros e se exterminando em disputas cruéis.

Não sei exatamente como isto vai acontecer, na verdade não sei nem se vai acontecer, mas quando pedalo me agrada acreditar que um outro Salvador ainda virá, carregado num berço sobre rodinhas atrelado a uma bicicleta, para nos conduzir a um mundo melhor.    

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Pedalando com a Violência


Jurei que ia falar de coisas alegres.
Da alegria de subir numa bicicleta e sair por aí.
De manhã cedo, bem cedo, acompanhando o surgir do dia e sentindo o ar matutino refrescando o rosto. Ou, mais tarde, em meio ao tráfego, esquivando aqui e ali para conseguir avançar. Ou, ainda, durante a noite, talvez na companhia de amigos para uma pedalada descontraída, conversando, numa conversa que pode até permitir uma parada para tomar alguma coisa num bar de esquina.
Jurei.
Não queria correr o risco de afugentar os leitores que foram surgindo, um a um, até formar um pelotão já numeroso de ciclistas, anônimos como eu, que mantém todos, no entanto, a característica comum, o que já nos tira do anonimato, de entendermos que estar pedalando sentado num selim é uma experiência inigualável.
Jurei, mas aí surgiu Pinheirinho no meu caminho.  E, de novo, não tive como deixar de associar a imagem da bicicleta às situações de drama social em que se vê envolvida.
No caso um drama de dimensões e significados que ainda nos resta entender em toda a sua gravidade, em toda a extensão de suas implicações no terreno humano, social e político.
E ali , presente, inseparável destes momentos, encontro a bicicleta. Em meio a outros bens e utensílios, ao lado de eletrodomésticos, butijão de gás e até um banquinho de madeira, como testemunha do drama.


Testemunha do assalto numa manhã de domingo ( quem disse que o domingo é sagrado?), da investida bárbara, da destruição, da violência respaldada pela lei e pelo governo através da mão armada, com requintes fascistas, promovida contra lares, famílias,  vidas que se constituíram em torno de referências que, de um momento para o outro, foram devastadas, jogadas por terra.     
A revolta não vai passar, nem quero que passe, nem a amargura, mas volto aos temas amenos. A bicicleta existe para isto, para nos tornar mais simples, mais humanos, mais amigos.
A bicicleta existe para nos salvar de um mundo que, diariamente, dá passos rumo à própria destruição.