quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ciclista em São Paulo

Animado pela informação de amigos ciclistas de São Paulo de que é possível pedalar sem sobressaltos na cidade, procurei encontrar um ciclista nesta foto de um congestionamento normal de perto de 150 quilômetros.
Confesso que não estava achando até que, com o auxílio de uma lupa, pude divisar um ponto passível de ser identificado como sendo um ciclista.
Dá a impressão de que está de capacete, com colete reflexivo e, além disto, está na mesma mão dos carros, não está contramão. Um pequenino reflexo pode significar que está, também, com espelho retrovisor.Ou seja, um ciclista exemplar.
Se quiserem localizá-lo devem procurar na pista da direita, na segunda fila de carros, comprimido entre dois ônibus. O espaço é muito estreito mas o ciclista parece estar conseguindo avançar.
Poderia esperar para acompanhar o congestionamento mas, por não ser um ciclista inteiramente exemplar, procura esgueirar-se entre os veículos.
Bem, depois disto não sei o que ocorreu.
Ouvi dizer que foi a última vez que foi visto.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

"Porteña"


Descubro em Buenos Aires, a par de seus inumeráveis encantos,uma indubitável vocação e declarado amor pelas bicicletas.
Em meio ao seu trânsito intenso, pelas ruas estreitas ou pelas largas avenidas, vejo os ciclistas passarem, audazes, velozes, desafiando o tempo e desafiando até a morte.
São os entregadores de jornais, de pães, de carnes, de encomendas, enfim, de tudo que tenha que chegar rápido ao seu destino no centro da cidade.
As bicicletas dos entregadores de pães são as que mais se destacam.
Carregam à frente, diante de guidão, um enorme cesto que mais parece a gôndola de um balão.
Ver estes ciclistas todos ziguezagueando pela cidade é como uma ode ao perigo, à audácia, à ousadia, mas também um convite à poesia e a uma espécie de dança feita de volteios, de passos e guinadas inesperadas como no tango.
Ando assim a admirar suas peripécias quando me surge bem na minha frente, em meio de uma ensolarada tarde de domingo, junto a Puerto Madero, esta encantadora ciclista porteña.
Meu encanto e minha admiração se transformam , então, em flerte.
Flerte com a juventude e a beleza feminina.
Flerte com Buenos Aires.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Daniel Flores

Não sei quem é Daniel Flores até o momento em que, passando rapidamente pela feira de antiguidades de San Telmo, encontro num canto a exposição de suas fotos. Não se pode dizer que é o melhor lugar para expor fotografias. Como ainda é cedo ( em torno de 10 horas) ele não devia ter chegado há muito e as ia tirando de uma espécie de sacola e pendurando num mural. Mas embora a forma inadequada de serem expostas ( seria bem melhor se estivesse numa galeria) o que não contribui para a sua valorização, não posso deixar de notar que seu trabalho é dotado de talento e de uma espécie de busca que só poderia precisar melhor se tivesse condições de o conhecer mais detidamente.
Entre as várias fotos de tango e de Buenos Aires, seus temas, uma me chama particularmente a atenção, por ter uma bicicleta como objeto central. Compro-a por 30pesos
Não sei a data da foto, é um dado que poderia ajudar a situar a cena. De qualquer modo, não creio que seja antiga mas este é exatamente o clima que se sente. Lembra a atmosfera de um filme francês da década de cinquenta. Aliás, Buenos Aires tem esta virtude tão cara para os melancólicos e nostálgicos. Viaja-se no tempo embalado pelo som de algum tango que sempre toca vindo de algum lugar.
(Nota: esta crônica foi escrita numa viagem anterior a Buenos Aires, mas a reproduzo , me encontrando neste momento novamente na cidade, para retomar o tema )