domingo, 17 de fevereiro de 2008

Bicicletas Abandonadas


Lendo notícias sobre ciclismo, inteiro-me que, após a criação de um programa, em dezembro de 2007, favorecendo o transporte de bicicletas no Trensurb (sistema de trem urbano de Porto Alegre), duas delas foram esquecidas por seus usuários dentro do trem.
Segundo a notícia elas estão à disposição dos seus donos, desde que comprovem ser os proprietários, na Central de Achados, na Estação Farrapos. Caso ninguém procure as bicicletas no prazo de seis meses, elas serão entregues ao Setor de Relações Comunitárias para serem doadas a entidades beneficentes cadastradas na empresa.
Fico pensando, como pode alguém, um ciclista!, esquecer sua bicicleta?
Se alguém entra de bicicleta dentro do trem certamente tem a intenção de seguir sua viagem pedalando. Como poderia não se dar conta de sua falta? Ou não se dá, o mais provável, a tempo de recuperá-la? E depois, como provar que a bicicleta é sua? É freqüente os proprietários de bicicleta não disporem de documentos de seus veículos.
Ou teriam sido abandonadas voluntariamente?
Talvez os donos, cansados de suas bicicletas, tenham decidido deixá-las em um lugar no qual teriam um destino.
Pobres bicicletas abandonadas!
Á espera que definam sua sorte, doadas possivelmente, como diz a notícia, para entidades beneficentes.
Se tivessem sentimentos (e não os tem?) que dor não estariam sentindo, jogadas em um depósito, lembrando os bons momentos vividos em dias de melhor sorte.
Talvez fosse a ocasião de pensar em criar alguma organização para amparar estas bicicletas, jogadas ao abandono por parte de donos irresponsáveis, e dar-lhes um destino digno através da adoção ou outra forma de aproveitamento.
Se morasse em Porto Alegre, iria visitá-las e dar-lhes conforto e cuidados.
Como não moro, talvez ciclistas que estejam próximos, possam ter este gesto de humanidade para com máquinas tão sensíveis e, neste caso, tão desamparadas, esquecidas na Central de Achados.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Subindo a Ladeira

Sempre atento às manifestações que envolvem o ciclismo, chamou-me bastante a atenção um fato que, de tão simples, teria passado despercebido a muitos.
Bem próximo daqui, pela rua Dom Pedro II, existe uma das poucas ladeiras de Pelotas.
Como é de certo modo conhecido, a cidade é muito plana e, por isto mesmo, apontada como ideal para o emprego da bicicleta.
Mas a sua zona mais central, onde estão localizados os prédios mais importantes, entre eles a Prefeitura, a Biblioteca, os dois teatros, Sete de Abril e Guarany, o Grande Hotel, o Mercado Público, os casarões mais imponentes, etc., etc., ocupam uma zona levemente mais alta, que depois vai se prolongar pela maior parte da cidade, poucos metros acima da zona mais baixa que antigamente seriam zonas de várzea.
Pois bem, estas considerações são apenas para situar a cena que presenciei.
Tendo saído à noite para percorrer as adjacências deparo-me, ao chegar ao alto da ladeira a que me refiro, com um ciclista, negro, um pouco gordo, tentando com um certo esforço, superá-la sem sair do selim.
Acompanho sua tentativa acreditando que terá que levantar do selim para ajudar, com todo o impulso proporcionado pelo corpo, vencer a gravidade.
Mas ele resiste e, de uma forma que me surpreende, alcança o alto da ladeira sem se erguer, sentado como se estivesse sentado numa cadeira.
Tenho um impulso de interceptá-lo para cumprimentá-lo mas me detenho.
Ele é muito rápido e, mal supera o obstáculo, já segue adiante.
Mas dois aspectos me chamam muito a atenção.
Ao primeiro já me referi. O nosso herói é gordo, bem longe de qualquer modelo de atleta.
Segundo, sua bicicleta é extremamente precária e , enquanto subia, a correia ia escapando das pinhas como que se negando a participar daquele esforço.
Aliás, num dado momento, quando já chegava ao topo da ladeira e demonstrava disposição física para não parar, foi uma insuficiência mecânica que mais comecei a temer.
Enfim, no entanto, homem e máquina superam as dificuldades e, juntos, seguem triunfantes.