quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Subindo a Ladeira

Sempre atento às manifestações que envolvem o ciclismo, chamou-me bastante a atenção um fato que, de tão simples, teria passado despercebido a muitos.
Bem próximo daqui, pela rua Dom Pedro II, existe uma das poucas ladeiras de Pelotas.
Como é de certo modo conhecido, a cidade é muito plana e, por isto mesmo, apontada como ideal para o emprego da bicicleta.
Mas a sua zona mais central, onde estão localizados os prédios mais importantes, entre eles a Prefeitura, a Biblioteca, os dois teatros, Sete de Abril e Guarany, o Grande Hotel, o Mercado Público, os casarões mais imponentes, etc., etc., ocupam uma zona levemente mais alta, que depois vai se prolongar pela maior parte da cidade, poucos metros acima da zona mais baixa que antigamente seriam zonas de várzea.
Pois bem, estas considerações são apenas para situar a cena que presenciei.
Tendo saído à noite para percorrer as adjacências deparo-me, ao chegar ao alto da ladeira a que me refiro, com um ciclista, negro, um pouco gordo, tentando com um certo esforço, superá-la sem sair do selim.
Acompanho sua tentativa acreditando que terá que levantar do selim para ajudar, com todo o impulso proporcionado pelo corpo, vencer a gravidade.
Mas ele resiste e, de uma forma que me surpreende, alcança o alto da ladeira sem se erguer, sentado como se estivesse sentado numa cadeira.
Tenho um impulso de interceptá-lo para cumprimentá-lo mas me detenho.
Ele é muito rápido e, mal supera o obstáculo, já segue adiante.
Mas dois aspectos me chamam muito a atenção.
Ao primeiro já me referi. O nosso herói é gordo, bem longe de qualquer modelo de atleta.
Segundo, sua bicicleta é extremamente precária e , enquanto subia, a correia ia escapando das pinhas como que se negando a participar daquele esforço.
Aliás, num dado momento, quando já chegava ao topo da ladeira e demonstrava disposição física para não parar, foi uma insuficiência mecânica que mais comecei a temer.
Enfim, no entanto, homem e máquina superam as dificuldades e, juntos, seguem triunfantes.

Um comentário:

  1. Determinação, auto-confiança, persistência - na contramão da sensatez...
    C.

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Talvez não saiba mas pode ser que tenhamos, em outros momentos, pedalado juntos. Pedalado em todos os terrenos que a bicicleta propicia entre eles os da criação e participação. Se chegou até aqui é quase certo que sim.Escreva seu comentário. Ele é parte fundamental deste processo.