Levanto de manhã com o compromisso de, na primeira hora, ir à dentista. Falta pouco menos que quinze minutos quando estou pronto para sair.Penso em pegar uma carona de carro mas teria que voltar a pé.
Penso até em chamar um táxi mas, na volta, se não quissesse ficar jogando dinheiro fora, teria que voltar a pé também.
E de bicicleta, daria tempo?
O trajeto não é longo e, num instante coloco meu prendedor na barra do abrigo e estou na rua, pedalando.
Tomo a Rua Santa Cruz, uma rua relativamente calma, com pouco trânsito de automóveis.
A maior razão parece ser o calçamento de pedras, em alguns trechos irregular.
Não saberia apontar outra.
Mas esta rejeição dos automobilistas é que a torna tão interessante.
Em pleno centro da cidade, parece que saímos um pouco fora dele e, embora o pavimento nos trechos de pedra irregular torne pedalar em parte desconfortável, eu diria que isto é perfeitamente compensado pela tranquilidade que se ganha.
Tranquilidade, contudo, que parece não irá durar.
Com os recursos obtidos para asfaltamento da cidade revestem-se rapidamente várias ruas de betume preto.
E ao que se anuncia brevemente a Santa Cruz.
Que coisa insana!
Cobrir a beleza e a nobreza da pavimentação de pedra, muitas vezes de paralepípedos perfeitamente regulares que foram colocados um a um , e estão ali há muitas décadas,pelo asfalto que traz consigo o fluxo de automóveis, velocidades altas e o desperdício econômico da permanente manutenção.
Neste ponto os ciclistas, sempre prontos a reivindicar também pistas asfaltadas,poderiam fazer um reflexão pois mais daninho que o pavimento irregular é o automóvel que vem atrás do asfalto.
Bem são estas reflexões que vou fazendo enquanto me encaminho para a dentista.
Na volta tomo a ciclofaixa da Andrade Neves. Melhorou, sem dúvida, as condições de trafegabilidade para os ciclistas mas espanta que uma estreita faixa ( muito estreita na realidade) de pouco mais de um metro delimitada por uma linha pintada que já começa a perder a tinta, tenha levado cerca de um ano e meio para ser executada.
E,por enquanto, isto e a ciclofaixa do Laranjal, parece ser tudo que em décadas foi permitido às bicicletas obter.
Retomo a Santa Cruz e aproveitando dois leves ( levíssimos) declives que tem neste sentido, deixo-me levar pela força da gravidade.
Neste momento estou na contramão mas tenho consciência de que quem está realmente na contramão não somos nós os ciclistas mas os responsáveis por esta política desprovida de visão.
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Talvez não saiba mas pode ser que tenhamos, em outros momentos, pedalado juntos. Pedalado em todos os terrenos que a bicicleta propicia entre eles os da criação e participação. Se chegou até aqui é quase certo que sim.Escreva seu comentário. Ele é parte fundamental deste processo.