As notícias são alarmantes. A gripe A (a mesma "suína" ou "porcina" para os castelhanos) entra no Rio Grande do Sul de mãos dadas com uma frente fria que afirmam ser a mais rigorosa depois de muitos anos.
Temperaturas próximas de zero ou mesmo negativas.
Sensação térmica? Não dá nem para sentir quando as extremidades ficam como pedra e tudo que se busca é um canto onde se aquecer.
Cheguei a pensar: " que dia desafiador para pedalar... " mas, me encontrando na frente da lareira, esta idéia não progrediu muito.
Lembrei-me, então, de buscar minha bicicleta para compartilhar do calor do fogo.
Afinal, ela devia estar também sentindo muito frio.
Trouxe-a, portanto, e a deixei, apoiada no descanso, ao meu lado em frente à lareira.
Ficamos ali um bom tempo, pensando no verão distante mas, também, nos ciclistas e bicicletas anônimos que tenham de enfrentar a noite gélida para chegar aos seus destinos.
E enquanto permanecíamos próximos do fogo, a comunhão que sinto com minha bicicleta alcançou um grau ainda mais elevado ao ponto de que, em deteminados momentos, tinha uma espécie de sensação de que ela acompanhava meus pensamentos e, à sua maneira, sem deixar de ser máquina, tornava-se quase uma peça dotada de sensibilidade e de espírito.
Ou será esta impressão tão somente resultado das visões que, ao estar ao lado do fogo na noite mais fria da década, perpassam em frente aos nossos olhos hipnotizados pelas chamas?
Vou ficar nesta dúvida...