A história das bicicletas de minha vida talvez seja um pouco modesta.
À exceção da primeira, uma Monark, uma relíquia que preciso restaurar e que ganhei de meu pai ainda menino, as demais comprei usadas ou foram "adotadas". Pela ordem uma Caloi 10, azul, uma segunda Caloi de alumínio, usada, que me foi roubada e uma terceira, uma modesta Speed, adotada, que acabou se tornando a bicicleta de meu uso.
Na verdade, à exceção talvez da Monark, não posso dizer que tenha me apaixonado perdidamente por qualquer uma delas embora, hoje, tenha um grande carinho por todas. A que me foi roubada, por exemplo, sempre me lembro dela e tenho um sobressalto cada vez que vejo passar uma igual na rua.
Talvez por isto ainda namore os anúncios de bicicletas que aparecem nos jornais. Mas sempre me pergunto se devo me lançar a uma nova aventura amorosa. Confesso que tenho uma leve queda pelas reclinadas e as dobráveis, mas me contenho.
Até porque, nestes momentos, dou-me conta que devo dar mais atenção à minha Speed que entrou na minha vida doada por uns parentes que já não a queriam. Afinal tem sido minha companheira fiel nestes últimos anos e se nunca nutri nenhuma paixão louca por ela, aos poucos tenho percebido sua dedicação, sua fidelidade e por aí tem nascido em mim um reconhecimento, uma espécie de carinho em que se mistura gratidão mas também, devo admitir, pouco a pouco também um certo enlevo, uma certa atenção aos seus encantos simples.
Teriam, talvez, apenas que ser realçados.
Não descarto me envolver com outras bicicletas mas, neste momento, esta bicicleta já merece um lugar definitivo em minha vida e até por uma espécie de compromisso, não surpreeenderia se me mantivesse eternamente fiel.
O amor, enfim, tem caminhos que só aos poucos, por meios que não esperamos, acabamos por descobrir.