
Estou em Florianópolis, no bairro Pantanal, esperando na parada o ônibus para voltar para o centro. É quando percebo, aproximando-se lentamente, o ciclista.
Por alguma razão sua figura me chama a atenção. Emprega uma bicicleta de marchas que, se não aparentasse tão desgastada, poderia até se dizer muito boa.
Ele, por sua vez, completa esta impressão de abandono pois parece muito cansado além de vestir uma roupa surrada.
Como no bagageiro carrega um ancinho e mais alguma ferramenta de trabalho sou levado a supor que trabalha em limpeza de jardins ou algo assim.
O curioso, no entanto, é que apesar desta aparência geral de abandono, ele guarda uma espécie de dignidade que ainda consegue sobressair-se.
Aparenta ter cinquenta anos, talvez mais.
Passa por mim bem devagar, como se estivesse cansado.
Ao ver a cena meu impulso é de fotografá-la.
Ele logo, no entanto, dobra a esquina pouco adiante da parada e começa a subir a ladeira que inicia a seguir. Ainda pedala uns metros mas , pouco adiante, desce da bicicleta.
Tiro a máquina da mochila onde a carrego e corro para me posicionar. Tenho que ir para o meio da rua onde alguns carros atravessam mas ainda consigo tirar a foto.
Teria que pensar melhor para entender o que tanto me atraiu na cena.
Pode ter a ver com o anonimato do ciclista, com sua condição desfavorecida, com a fragilidade de suas forças físicas e a precariedade da bicicleta para enfrentar o obstáculo da ladeira, enfim, são muitas as coisas que me vem à mente.
Coisas que também me fazem pensar por um instante na insignificância de nossas existências que procuramos conduzir dentro de nossos limites, muitas vezes pedalando, como no caso, uma bicicleta.
Ou. quando o obstáculo é maior do que nossas forças, levando-a pela mão até chegarmos ao destino.