As bicicletas, como instrumentos de trabalho e de transporte de pessoas humildes, podem refletir, pelo seu estado, suas vidas de pobreza.
Volta e meia nos deparamos com algumas delas, às vezes meio jogadas a um canto como se abandonadas.
Bicicletas de rua poderíamos até denominá-las.
Raras vezes, no entanto, chegam a chamar nossa atenção.
Normalmente passamos rapidamente por elas, pedalando em nossas reluzentes bicicletas caras, velozes, vestidos com impecável indumentária ciclística , e seguimos adiante, às vezes em bandos alegres e sorridentes, quase sempre a passeio.
Como haveríamos de prestar atenção em veículos tão apagados, quase miseráveis que cruzam nosso caminho?
Assim não nos detemos, seguimos adiante.
De volta em casa, tomamos nosso banho quente e, de imediato , pois em vez de nos sentirmos cansados ao contrário temos o ânimo redobrado, saímos para nos reunir com amigos num bar.
Nossas bicicletas, se não chegamos a levá-las conosco, ficam bem guardadas em nossas casas confortáveis.
Afinal, as bicicletas não podem abdicar do mundo a que pertencem, o mundo dos homens. E ao contrário deles, que ainda tem esta possibilidade, tampouco podem, como máquinas que são, se organizarem para mudar sua condição.