sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Pedalando com a Violência


Jurei que ia falar de coisas alegres.
Da alegria de subir numa bicicleta e sair por aí.
De manhã cedo, bem cedo, acompanhando o surgir do dia e sentindo o ar matutino refrescando o rosto. Ou, mais tarde, em meio ao tráfego, esquivando aqui e ali para conseguir avançar. Ou, ainda, durante a noite, talvez na companhia de amigos para uma pedalada descontraída, conversando, numa conversa que pode até permitir uma parada para tomar alguma coisa num bar de esquina.
Jurei.
Não queria correr o risco de afugentar os leitores que foram surgindo, um a um, até formar um pelotão já numeroso de ciclistas, anônimos como eu, que mantém todos, no entanto, a característica comum, o que já nos tira do anonimato, de entendermos que estar pedalando sentado num selim é uma experiência inigualável.
Jurei, mas aí surgiu Pinheirinho no meu caminho.  E, de novo, não tive como deixar de associar a imagem da bicicleta às situações de drama social em que se vê envolvida.
No caso um drama de dimensões e significados que ainda nos resta entender em toda a sua gravidade, em toda a extensão de suas implicações no terreno humano, social e político.
E ali , presente, inseparável destes momentos, encontro a bicicleta. Em meio a outros bens e utensílios, ao lado de eletrodomésticos, butijão de gás e até um banquinho de madeira, como testemunha do drama.


Testemunha do assalto numa manhã de domingo ( quem disse que o domingo é sagrado?), da investida bárbara, da destruição, da violência respaldada pela lei e pelo governo através da mão armada, com requintes fascistas, promovida contra lares, famílias,  vidas que se constituíram em torno de referências que, de um momento para o outro, foram devastadas, jogadas por terra.     
A revolta não vai passar, nem quero que passe, nem a amargura, mas volto aos temas amenos. A bicicleta existe para isto, para nos tornar mais simples, mais humanos, mais amigos.
A bicicleta existe para nos salvar de um mundo que, diariamente, dá passos rumo à própria destruição.  

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