Receio que o que me atrai nesta cena em Montevideo possa não atrair mais ninguém.
A imagem não atende nenhum padrão vigente que a torne razoável sob o aspecto fotográfíco.
Para mim, no entanto, tem um valor próprio.
O ciclista da cena puxa um reboque no qual carrega coisas importantes para ele.
Não pude definir bem se utensílios e pertences ou lixo que coleta.
Mas é Sexta-Feira Santa e pelas ruas vazias da Ciudad Vieja este homem , enquanto a cidade dorme, movimenta-se à busca de seu sustento e dos que possam depender de suas pedaladas.
O valor da foto, para mim, está também no fato de que tive que correr para chegar na esquina a tempo de registar sua passagem já meio desaparecendo. Mas acho que não corri o suficiente, por isto a figura do ciclista já quase saindo do quadro.
Agora, cada vez que olho para o seu vulto na foto fico pensando: eis aí , como não poderia haver outro tão marcante , um autêntico ciclista anônimo.
Belíssimo texto, belíssima foto, P.R.
ResponderExcluirSensibilidade, imagem e excelente narrativa.
Janie Cristine
É apenas um registro. O que vale, se algo vale,é a urgência que senti de fazê-lo e tê-lo obtido. Sinto-me , de um lado, recompensado por ter tido a agilidade de captar a cena e, dentro dela, ainda constar o ciclista. Se a fotografia registra, como dizem um momento, este momento já estava escapando.Mas consegui pegá-lo pela cola.De outro lado, no entanto,sinto-me incapaz de ter qualquer tipo de interferência sobre este momento e passo, da ação material de produzir a foto, para uma forma de nostalgia daquilo que passa por nós fugazmente.
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