Ao sair de casa deparo-me, na esquina, com esta bicicleta.
Verifico que está cuidada, com indícios, até pelo modelo, de poder tratar-se de uma bicicleta feminina , mas está sózinha, presa por um cabo com cadeado, ao suporte da placa de sinalização.
Seu dono ou dona, tudo indica, afastou-se para fazer alguma coisa, talvez até comprar algum medicamento na farmácia em frente.
A bicicleta, enquanto isto, companheira, aguarda quieta, sossegada, até seu retorno.
Ocorre-me que os cães e as bicicletas, talvez se possa dizer, sejam os melhores amigos do homem.
Não exigem muito, o que significa que podemos mantê-los com pouco. Têm a capacidade, quando não lhes damos muita atenção, de ficarem em um canto, sempre prontos, no entanto, a nos atender quando lembramos que estão por perto.
Mas voltando à bicicleta, simpatizei tanto com ela que pensei até em esperar pelo dono.
Queria cumprimentá-lo, dizer-lhe: " que bela bicicleta você tem, tão obediente!..."
Mas eu estava com pressa.
Disse tchau para a bicicleta e segui adiante.
Já mais distante olhei para trás e percebi que alguém se aproximava da bicicleta.
Seria um ladrão?!
Enquanto fiquei por um instante acompanhando a cena, a pessoa começou a livrar a bicicleta da placa.
Procurei então me aproximar para acompanhar melhor e só então, já mais perto, pude perceber que se tratava de uma mulher com os cabelos presos e boné.
Ainda tentei chegar mais perto ,com a intenção de tentar dizer-lhe alguma coisa, mas a oportunidade já passara.
Com a bicicleta já solta pôs-se de pronto em movimento com firmes pedaladas.
E como veio em minha direção constatei que era não só uma mulher, como percebera à distância, mas, além disto, muito atraente.
Quase salto à sua frente para dizer: "eu também sou um ciclista" mas já era tarde.
Passou por mim sem me perceber e foi logo se afastando perdendo-se de vista.
Meio desapontado prometi a mim mesmo, da próxima vez, olhar melhor pela volta quando encontrar uma bicicleta solitária aguardando que a venham buscar.
Tampouco posso me impedir, desde então, de espiar na esquina para ver se a bicicleta não voltou a aparecer...
li a crônica sobre a bicicleta... adoro ler textos que tem como tema a questão do “instante”, de um momento fluído, efêmero... e tu consegues isso que é uma maravilha...
ResponderExcluirtu consegues, através das palavras, dar uma beleza a um instante que não é retirado de um espaço distante, mas do mundo real... só um poeta consegue isso...
... outro dia, sentado na mesa de um bar, vi uma ciclista elegantemente vestida ( de fato com roupas condizentes a quem vai ao teatro) cruzando a esquina, no início da noite, em meio a um tráfego intenso, surgida não sei de onde...
ResponderExcluir... em minha mente elaborou-se um movimento para saber mais a seu respeito...
... mas tudo que consegui, imobilizado pelo inesperado da cena, foi imaginar que qualquer dia ela se repetiria...