Por um momento, na tarde ensolarada, o tráfego intenso de veículos se interrompe.
O ciclista aproveita, exatamente em um ponto onde ocorrem com frequencia acidentes de certa gravidade, para atravessar a rua.
Com muita calma, como se estivesse numa pequena cidade do interior.
Ou como se, a exemplo de Moisés, apartando as águas do Mar Vermelho, tivesse o caminho livre para avançar a salvo.
Mas não é só o tráfego que parece ter se interrompido.
É a própria atividade do Bairro.
O próprio Tempo.
De tal modo que deste momento só ficará este breve registro sem data.
Como única referência da hora do dia apenas a luz da tarde que cai projetando grandes sombras.
O ciclista, pincelando de azul este cenário, parece ainda definir seu rumo. Mas por um instante, mantendo-se no anonimato, torna-se o centro do universo, eterniza-se e, atemporal, se faz para sempre imortal.
E ainda dizem que o tempo não pára (assim mesmo, com acento anterior à reforma ortográfica)...
ResponderExcluirBelíssimo "flagrante"!
P.S. é a primeira vez que vejo um ciclista conduzindo sua bicicleta à esquerda. Ou será que isso é mais comum do que imagino?
O detalhe da condução num exame minucioso poderia ser a prova de uma "encenação".
ResponderExcluirNeste caso o Tempo não teria se interrompido tudo não passando de uma montagem com o ciclista como ator...