Grande parte das discussões e da mobilização em torno do ciclismo mostra-se vinculada às suas dimensões esportiva, de lazer ou urbana. Por isto quando não se está discutindo competições , o assunto são passeios, cicloturismo ou ciclovias com boas condições de utilização.
Pergunto-me, no entanto, se o universo do ciclismo se encerra dentro deste referencial na realidade até um pouco fechado em torno de valores que podem ser bastante individualistas.
Pergunto-me sem ter, na realidade, uma resposta para apresentar.
Fico, contudo, imaginando o papel que as bicicletas podem ter em comunidades pobres nas quais, além de elas estarem em condições normalmente bem precárias, são poucas e precisam ser compartilhadas por várias pessoas.
Enquanto passamos a achar normal em alguns estamentos de nossa sociedade as famílias terem mais de um automóvel, imagino que haja outros, em outros contextos, nos quais uma bicicleta atende a uma família inteira. Qual o valor que tem exatamente para estas pessoas a bicicleta?
Não sei responder, como posso ter resposta para algo que não estamos acostumados a viver, não estamos acostumados nem a pensar?
Mas, pelo menos isto, queria que pudéssemos alcançar, que os ciclistas se tornassem cidadãos-ciclistas e fizessem comigo esta ciclo-reflexão.
sábado, 27 de dezembro de 2008
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Don Quixote e os ciclistas
Na postagem anterior escrevo que "o ciclista surge neste ambiente inóspito como um tipo de figura quixotesca a duelar a cada esquina, a cada quadra com máquinas metálicas, velozes e mortíferas."
Tomando esta linha de pensamento quer me parecer que ela é mais procedente do que tinha pensado.
Don Quixote, acompanhado do fiel escudeiro Sancho Panza, tem um ideal e um objetivo mas se defronta, na busca de concretizá-los, com obstáculos difíceis de superar.
Quando enfrenta, pensando se tratarem de cavaleiros inimigos, os moinhos de vento, defronta-se, na realidade, com forças que superam sua pequena capacidade de luta.
Os ciclistas que entram dentro do trânsito e disputam seu espaço com veículos pesados, são como Don Quixote enfrentando os moinhos.
O resultado é bem conhecido. Os ferimentos, as fraturas ou até mesmo, o que não é incomum, a morte.
Trata-se de um confronto desigual e mortal.
Nem sempre o capacete, os equipamentos de segurança, o respeito a regras de trânsito, são garantia integral de sobrevivência. Muitas vezes estas proteções se pulverizam diante da brutalidade que é ser atropelado por veículos que podem ser centenas de vezes mais pesados.
Este é o momento em que, efetivamente, estamos na contramão pois a vida é uma via de mão única. Para superar esta condição de inferioridade só dispomos da nossa organização e da nossa união. Quando entramos na discussão das condições oferecidas para o ciclismo urbano, percebemos que temos dificuldade em manter o foco naquilo que é mais essencial e nas questões primordialmente mais estratégicas.
Como Don Quixote acreditamos que ações algumas das quais em parte ingênuas e isoladas possam modificar um quadro profundamente instalado em nossa sociedade e dentro do qual o automóvel é o soberano intocável. Temos que ir à busca de aliados, um dos quais temos de ter a clareza de nos dar conta, é o transporte coletivo. Poucas vezes vejo colocada esta associação mas ela é central num contexto em que o grande desafio é impedir que os carros particulares ocupem as ruas de forma cada vez mais avassaladora.
Para concluir estas observações, reitero que é o momento de caminharmos das formas quixotescas de tentar abalar o poder do qual os ciclistas estão excluídos, para outras mais estruturadas e, em especial, baseadas em estratégias mais coerentes com os embates que se colocam pela frente.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Ciclistas de Buenos Aires
Surpreende em Buenos Aires, com o tráfego intenso que se observa em sua zona central, o grande número de ciclistas que circulam( na foto um deles ziguezagueando para escapulir dos carros). Ou, melhor dizendo, malabaristas, equilibrando-se sobre duas rodas enquanto executam movimentos sinuosos cercados de riscos e perigos por todos os lados.
Realmente espanta.
Desconheço dados sobre acidentes mas fica a impressão que não devam ser poucos.
Por outro lado resta por explicar, tendo em vista este número tão expressivo de ciclistas e o conceito que Buenos Aires procura sustentar de metrópole cultural, como não existam vias próprias para a circulação de bicicletas.
As condições seriam bem favoráveis para isto. As avenidas são bem largas e a topografia é plana.
Mas o império do automóvel, a exemplo de tantas cidades, é poderoso.
O ciclista surge neste ambiente inóspito como um tipo de figura quixotesca a duelar a cada esquina, a cada quadra com máquinas metálicas, velozes e mortíferas.
Indiferentes, contudo, a estes perigos, os ciclistas passam rápidos, ágeis, esquivando-se aqui e ali, descobrindo espaços para passar onde o bloqueio e a muralha de carros parece indevassável.
Como os admiro, ciclistas anônimos, em sua inconsequência, em seu destemor que cria um elemento tão forte de oposição, de contradição e, ao mesmo tempo, de esperança à ditadura implacável do automóvel !
A respeito deles é importante sublinhar que a grande maioria está envolvido com seu trabalho. Muitos vêm de pontos distantes, dos arrabaldes, trazendo suas bicicletas de trem até a estação mais próxima da zona central de Buenos Aires onde se misturam a muitos outros, executando atividades diversas (a de estafeta é bem típica e parece congregar os ciclistas mais temerários) de trabalho ou de estudo.
E parecem ter sempre um motivo muito forte para se arriscarem tanto seja êle econômico ou de tempo.
Resta-nos aguardar que algum dia Buenos Aires seja mais amena para propiciar a nós pobres mortais, ciclistas de carne e osso, alguns meros turistas como eu, podermos percorrer de bicicleta suas lindas ruas e avenidas.
Aí sim, Buenos Aires estaria mais próxima da Paris da qual se gaba ser uma espécie de irmã.
sábado, 5 de julho de 2008
Tabela de Estacionamento
Dizem que no mundo capitalista tudo tem seu valor ou que tudo tem seu preço. Qualquer coisa, independentemente do que seja. Em se tratando do que representa a bicicleta esta tabela, afixada num estacionamento no centro, talvez dê uma pequena idéia do que representa em relação a outros veículos. Poder-se-ia até especular que está bem valorizada tendo em conta que o seu estacionamento por hora representa pouco menos que 50% do valor estipulado para um veículo pequeno. Seria ótimo se a bicicleta tivesse a mesma atenção das administrações que tem estes veículos em algo perto desta proporção. Mas certamente não tem. Ou seja a bicicleta é duplamente discriminada primeiro quando é esquecida no planejamento urbano ou então, o, , ao ser lembrada, é tratada como se fôsse algo raro, quase um objeto de luxo tendo que pagar o correspondente por esta cotação .
É com esta lógica que temos que lidar e que nos cabe, sem perder a poesia combater. A poesia, só para explicitar, deve ser entendida como a qualidade que, sem deixar de lado a luta e o ativismo, enriquece-os com o que agrega de elementos culturais, criativos e humanos.
É com esta lógica que temos que lidar e que nos cabe, sem perder a poesia combater. A poesia, só para explicitar, deve ser entendida como a qualidade que, sem deixar de lado a luta e o ativismo, enriquece-os com o que agrega de elementos culturais, criativos e humanos.
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segunda-feira, 16 de junho de 2008
World Naked Bike Ride
O World Naked Bike Ride chegou ao Brasil, em São Paulo.
Num primeiro momento, muito pudico, mas bem divertido com ampla divulgação de roupas íntimas, cuecas, calcinhas e sutiãs.
Quando um mais atrevido, resta saber se adepto do ciclismo ou do nudismo, propôs-se a levar o espírito do protesto ao pé da letra, foi de imediato detido por policiais e a manifestação, segundo foi noticiado, teria acabado por aí em protestos pelas detenções.
Mas, além da diversão, o evento valeu por ter alcançado a mídia nacional e também posto a nú, isto sim, as limitações do poder público, evidenciado na negativa de autorização e na ação policial, grotesca, em lidar com este tipo de ato e , por conseqüência, com a própria questão do emprego da bicicleta nos centros urbanos.
Aqui pelo Rio Grande do Sul talvez qualquer dia algum grupo se anime a promover algo semelhante.
Terá apenas que escolher muito bem a época do ano.
Agora, por exemplo, duvido que tivesse algum sucesso.
Só de esperar que me tirassem esta foto, com o mínimo de roupa que podia em apoio aos ciclistas de São Paulo, fiquei tremendo de frio...
Num primeiro momento, muito pudico, mas bem divertido com ampla divulgação de roupas íntimas, cuecas, calcinhas e sutiãs.
Quando um mais atrevido, resta saber se adepto do ciclismo ou do nudismo, propôs-se a levar o espírito do protesto ao pé da letra, foi de imediato detido por policiais e a manifestação, segundo foi noticiado, teria acabado por aí em protestos pelas detenções.
Mas, além da diversão, o evento valeu por ter alcançado a mídia nacional e também posto a nú, isto sim, as limitações do poder público, evidenciado na negativa de autorização e na ação policial, grotesca, em lidar com este tipo de ato e , por conseqüência, com a própria questão do emprego da bicicleta nos centros urbanos.
Aqui pelo Rio Grande do Sul talvez qualquer dia algum grupo se anime a promover algo semelhante.
Terá apenas que escolher muito bem a época do ano.
Agora, por exemplo, duvido que tivesse algum sucesso.
Só de esperar que me tirassem esta foto, com o mínimo de roupa que podia em apoio aos ciclistas de São Paulo, fiquei tremendo de frio...
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Proibido para Ciclistas
sábado, 24 de maio de 2008
Paisagens de Outono
Ainda não sei o que vou escrever sobre esta foto.
Aliás, será uma foto mesmo ou alguma coisa que imaginei?
O que será real nesta cena?
Onde termina a pintura, onde estão os limites da tela?
Como não sei o que responder, aguardo para escrever quando puder me situar melhor diante destas questões.
Enquanto isto deixo-me levar pela impressão de que estou sonhando, de que pedalando deixei-me adormecer e acordei num mundo em que somos mais livres, mais puros, deixando-nos fundir com as paisagens do outono
Aliás, será uma foto mesmo ou alguma coisa que imaginei?
O que será real nesta cena?
Onde termina a pintura, onde estão os limites da tela?
Como não sei o que responder, aguardo para escrever quando puder me situar melhor diante destas questões.
Enquanto isto deixo-me levar pela impressão de que estou sonhando, de que pedalando deixei-me adormecer e acordei num mundo em que somos mais livres, mais puros, deixando-nos fundir com as paisagens do outono
terça-feira, 13 de maio de 2008
Adeus ao sossêgo
Levanto de manhã com o compromisso de, na primeira hora, ir à dentista. Falta pouco menos que quinze minutos quando estou pronto para sair.Penso em pegar uma carona de carro mas teria que voltar a pé.
Penso até em chamar um táxi mas, na volta, se não quissesse ficar jogando dinheiro fora, teria que voltar a pé também.
E de bicicleta, daria tempo?
O trajeto não é longo e, num instante coloco meu prendedor na barra do abrigo e estou na rua, pedalando.
Tomo a Rua Santa Cruz, uma rua relativamente calma, com pouco trânsito de automóveis.
A maior razão parece ser o calçamento de pedras, em alguns trechos irregular.
Não saberia apontar outra.
Mas esta rejeição dos automobilistas é que a torna tão interessante.
Em pleno centro da cidade, parece que saímos um pouco fora dele e, embora o pavimento nos trechos de pedra irregular torne pedalar em parte desconfortável, eu diria que isto é perfeitamente compensado pela tranquilidade que se ganha.
Tranquilidade, contudo, que parece não irá durar.
Com os recursos obtidos para asfaltamento da cidade revestem-se rapidamente várias ruas de betume preto.
E ao que se anuncia brevemente a Santa Cruz.
Que coisa insana!
Cobrir a beleza e a nobreza da pavimentação de pedra, muitas vezes de paralepípedos perfeitamente regulares que foram colocados um a um , e estão ali há muitas décadas,pelo asfalto que traz consigo o fluxo de automóveis, velocidades altas e o desperdício econômico da permanente manutenção.
Neste ponto os ciclistas, sempre prontos a reivindicar também pistas asfaltadas,poderiam fazer um reflexão pois mais daninho que o pavimento irregular é o automóvel que vem atrás do asfalto.
Bem são estas reflexões que vou fazendo enquanto me encaminho para a dentista.
Na volta tomo a ciclofaixa da Andrade Neves. Melhorou, sem dúvida, as condições de trafegabilidade para os ciclistas mas espanta que uma estreita faixa ( muito estreita na realidade) de pouco mais de um metro delimitada por uma linha pintada que já começa a perder a tinta, tenha levado cerca de um ano e meio para ser executada.
E,por enquanto, isto e a ciclofaixa do Laranjal, parece ser tudo que em décadas foi permitido às bicicletas obter.
Retomo a Santa Cruz e aproveitando dois leves ( levíssimos) declives que tem neste sentido, deixo-me levar pela força da gravidade.
Neste momento estou na contramão mas tenho consciência de que quem está realmente na contramão não somos nós os ciclistas mas os responsáveis por esta política desprovida de visão.
Penso até em chamar um táxi mas, na volta, se não quissesse ficar jogando dinheiro fora, teria que voltar a pé também.
E de bicicleta, daria tempo?
O trajeto não é longo e, num instante coloco meu prendedor na barra do abrigo e estou na rua, pedalando.
Tomo a Rua Santa Cruz, uma rua relativamente calma, com pouco trânsito de automóveis.
A maior razão parece ser o calçamento de pedras, em alguns trechos irregular.
Não saberia apontar outra.
Mas esta rejeição dos automobilistas é que a torna tão interessante.
Em pleno centro da cidade, parece que saímos um pouco fora dele e, embora o pavimento nos trechos de pedra irregular torne pedalar em parte desconfortável, eu diria que isto é perfeitamente compensado pela tranquilidade que se ganha.
Tranquilidade, contudo, que parece não irá durar.
Com os recursos obtidos para asfaltamento da cidade revestem-se rapidamente várias ruas de betume preto.
E ao que se anuncia brevemente a Santa Cruz.
Que coisa insana!
Cobrir a beleza e a nobreza da pavimentação de pedra, muitas vezes de paralepípedos perfeitamente regulares que foram colocados um a um , e estão ali há muitas décadas,pelo asfalto que traz consigo o fluxo de automóveis, velocidades altas e o desperdício econômico da permanente manutenção.
Neste ponto os ciclistas, sempre prontos a reivindicar também pistas asfaltadas,poderiam fazer um reflexão pois mais daninho que o pavimento irregular é o automóvel que vem atrás do asfalto.
Bem são estas reflexões que vou fazendo enquanto me encaminho para a dentista.
Na volta tomo a ciclofaixa da Andrade Neves. Melhorou, sem dúvida, as condições de trafegabilidade para os ciclistas mas espanta que uma estreita faixa ( muito estreita na realidade) de pouco mais de um metro delimitada por uma linha pintada que já começa a perder a tinta, tenha levado cerca de um ano e meio para ser executada.
E,por enquanto, isto e a ciclofaixa do Laranjal, parece ser tudo que em décadas foi permitido às bicicletas obter.
Retomo a Santa Cruz e aproveitando dois leves ( levíssimos) declives que tem neste sentido, deixo-me levar pela força da gravidade.
Neste momento estou na contramão mas tenho consciência de que quem está realmente na contramão não somos nós os ciclistas mas os responsáveis por esta política desprovida de visão.
segunda-feira, 10 de março de 2008
Prendedor de Calça
Em meio às discussões que tratam da incorporação de tecnologias de ponta ao ciclismo ( sistemas de computação, materiais como titânio, carbono e os mais diversos recursos modernos), confesso que me sinto um pouco intimidado de falar em um simples e singelo prendedor de calça.
Mas um dia desses, decidindo pedalar com um abrigo com a boca da perna um pouco larga e não tendo protetor da coroa central, senti a necessidade do acessório.
Um recurso simples e bastante, digamos, "caseiro" é empregar um prendedor de roupa, destes usados em varais, para prender a calça. E acho que foi o que empreguei.
Como eu disse, em meio a tantas discussões sobre recursos avançados à disposição do ciclista, a solução pode parecer até grosseira. Mas, na verdade, não o é, funciona muito bem e tem um significado para a cultura ciclística muito grande.
Animado pela redescoberta lembrei-me da existência de um outro tipo de prendedor com o qual, por razões que levaria um tempo para explicar, não simpatizava, e que consiste de uma mola em curva que se fecha sobre o tornozelo.
Por ser um acessório meio antigo e nunca mais tê-lo visto, imaginei que não o encontraria mais.
No entanto, um pouco surpreso e ao mesmo tempo deliciado, encontrei-o em uma oficina de bicicletas. O proprietário inclusive me informou que eles podem ser obtidos nas cores do time de futebol da predileção. Ia pedir vermelho e preto, cores de meu time o xavante pelotense, mas não tinha.
Aliás, embora subsistam, entendi que estes prendedores não são muito usados sendo até meio raros.
Uma pena porque são muito úteis e , a exemplo dos paralamas, seu desuso parece-me resultado muito mais de nossa débil cultura ciclística do que consequência de uma pseudo evolução tecnológica.
Mas um dia desses, decidindo pedalar com um abrigo com a boca da perna um pouco larga e não tendo protetor da coroa central, senti a necessidade do acessório.
Um recurso simples e bastante, digamos, "caseiro" é empregar um prendedor de roupa, destes usados em varais, para prender a calça. E acho que foi o que empreguei.
Como eu disse, em meio a tantas discussões sobre recursos avançados à disposição do ciclista, a solução pode parecer até grosseira. Mas, na verdade, não o é, funciona muito bem e tem um significado para a cultura ciclística muito grande.
Animado pela redescoberta lembrei-me da existência de um outro tipo de prendedor com o qual, por razões que levaria um tempo para explicar, não simpatizava, e que consiste de uma mola em curva que se fecha sobre o tornozelo.
Por ser um acessório meio antigo e nunca mais tê-lo visto, imaginei que não o encontraria mais.
No entanto, um pouco surpreso e ao mesmo tempo deliciado, encontrei-o em uma oficina de bicicletas. O proprietário inclusive me informou que eles podem ser obtidos nas cores do time de futebol da predileção. Ia pedir vermelho e preto, cores de meu time o xavante pelotense, mas não tinha.
Aliás, embora subsistam, entendi que estes prendedores não são muito usados sendo até meio raros.
Uma pena porque são muito úteis e , a exemplo dos paralamas, seu desuso parece-me resultado muito mais de nossa débil cultura ciclística do que consequência de uma pseudo evolução tecnológica.
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Bicicletas Abandonadas
Lendo notícias sobre ciclismo, inteiro-me que, após a criação de um programa, em dezembro de 2007, favorecendo o transporte de bicicletas no Trensurb (sistema de trem urbano de Porto Alegre), duas delas foram esquecidas por seus usuários dentro do trem.
Segundo a notícia elas estão à disposição dos seus donos, desde que comprovem ser os proprietários, na Central de Achados, na Estação Farrapos. Caso ninguém procure as bicicletas no prazo de seis meses, elas serão entregues ao Setor de Relações Comunitárias para serem doadas a entidades beneficentes cadastradas na empresa.
Fico pensando, como pode alguém, um ciclista!, esquecer sua bicicleta?
Se alguém entra de bicicleta dentro do trem certamente tem a intenção de seguir sua viagem pedalando. Como poderia não se dar conta de sua falta? Ou não se dá, o mais provável, a tempo de recuperá-la? E depois, como provar que a bicicleta é sua? É freqüente os proprietários de bicicleta não disporem de documentos de seus veículos.
Ou teriam sido abandonadas voluntariamente?
Segundo a notícia elas estão à disposição dos seus donos, desde que comprovem ser os proprietários, na Central de Achados, na Estação Farrapos. Caso ninguém procure as bicicletas no prazo de seis meses, elas serão entregues ao Setor de Relações Comunitárias para serem doadas a entidades beneficentes cadastradas na empresa.
Fico pensando, como pode alguém, um ciclista!, esquecer sua bicicleta?
Se alguém entra de bicicleta dentro do trem certamente tem a intenção de seguir sua viagem pedalando. Como poderia não se dar conta de sua falta? Ou não se dá, o mais provável, a tempo de recuperá-la? E depois, como provar que a bicicleta é sua? É freqüente os proprietários de bicicleta não disporem de documentos de seus veículos.
Ou teriam sido abandonadas voluntariamente?
Talvez os donos, cansados de suas bicicletas, tenham decidido deixá-las em um lugar no qual teriam um destino.
Pobres bicicletas abandonadas!
Á espera que definam sua sorte, doadas possivelmente, como diz a notícia, para entidades beneficentes.
Se tivessem sentimentos (e não os tem?) que dor não estariam sentindo, jogadas em um depósito, lembrando os bons momentos vividos em dias de melhor sorte.
Talvez fosse a ocasião de pensar em criar alguma organização para amparar estas bicicletas, jogadas ao abandono por parte de donos irresponsáveis, e dar-lhes um destino digno através da adoção ou outra forma de aproveitamento.
Se morasse em Porto Alegre, iria visitá-las e dar-lhes conforto e cuidados.
Pobres bicicletas abandonadas!
Á espera que definam sua sorte, doadas possivelmente, como diz a notícia, para entidades beneficentes.
Se tivessem sentimentos (e não os tem?) que dor não estariam sentindo, jogadas em um depósito, lembrando os bons momentos vividos em dias de melhor sorte.
Talvez fosse a ocasião de pensar em criar alguma organização para amparar estas bicicletas, jogadas ao abandono por parte de donos irresponsáveis, e dar-lhes um destino digno através da adoção ou outra forma de aproveitamento.
Se morasse em Porto Alegre, iria visitá-las e dar-lhes conforto e cuidados.
Como não moro, talvez ciclistas que estejam próximos, possam ter este gesto de humanidade para com máquinas tão sensíveis e, neste caso, tão desamparadas, esquecidas na Central de Achados.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Subindo a Ladeira
Sempre atento às manifestações que envolvem o ciclismo, chamou-me bastante a atenção um fato que, de tão simples, teria passado despercebido a muitos.
Bem próximo daqui, pela rua Dom Pedro II, existe uma das poucas ladeiras de Pelotas.
Como é de certo modo conhecido, a cidade é muito plana e, por isto mesmo, apontada como ideal para o emprego da bicicleta.
Mas a sua zona mais central, onde estão localizados os prédios mais importantes, entre eles a Prefeitura, a Biblioteca, os dois teatros, Sete de Abril e Guarany, o Grande Hotel, o Mercado Público, os casarões mais imponentes, etc., etc., ocupam uma zona levemente mais alta, que depois vai se prolongar pela maior parte da cidade, poucos metros acima da zona mais baixa que antigamente seriam zonas de várzea.
Pois bem, estas considerações são apenas para situar a cena que presenciei.
Tendo saído à noite para percorrer as adjacências deparo-me, ao chegar ao alto da ladeira a que me refiro, com um ciclista, negro, um pouco gordo, tentando com um certo esforço, superá-la sem sair do selim.
Acompanho sua tentativa acreditando que terá que levantar do selim para ajudar, com todo o impulso proporcionado pelo corpo, vencer a gravidade.
Mas ele resiste e, de uma forma que me surpreende, alcança o alto da ladeira sem se erguer, sentado como se estivesse sentado numa cadeira.
Tenho um impulso de interceptá-lo para cumprimentá-lo mas me detenho.
Ele é muito rápido e, mal supera o obstáculo, já segue adiante.
Mas dois aspectos me chamam muito a atenção.
Ao primeiro já me referi. O nosso herói é gordo, bem longe de qualquer modelo de atleta.
Segundo, sua bicicleta é extremamente precária e , enquanto subia, a correia ia escapando das pinhas como que se negando a participar daquele esforço.
Aliás, num dado momento, quando já chegava ao topo da ladeira e demonstrava disposição física para não parar, foi uma insuficiência mecânica que mais comecei a temer.
Enfim, no entanto, homem e máquina superam as dificuldades e, juntos, seguem triunfantes.
Bem próximo daqui, pela rua Dom Pedro II, existe uma das poucas ladeiras de Pelotas.
Como é de certo modo conhecido, a cidade é muito plana e, por isto mesmo, apontada como ideal para o emprego da bicicleta.
Mas a sua zona mais central, onde estão localizados os prédios mais importantes, entre eles a Prefeitura, a Biblioteca, os dois teatros, Sete de Abril e Guarany, o Grande Hotel, o Mercado Público, os casarões mais imponentes, etc., etc., ocupam uma zona levemente mais alta, que depois vai se prolongar pela maior parte da cidade, poucos metros acima da zona mais baixa que antigamente seriam zonas de várzea.
Pois bem, estas considerações são apenas para situar a cena que presenciei.
Tendo saído à noite para percorrer as adjacências deparo-me, ao chegar ao alto da ladeira a que me refiro, com um ciclista, negro, um pouco gordo, tentando com um certo esforço, superá-la sem sair do selim.
Acompanho sua tentativa acreditando que terá que levantar do selim para ajudar, com todo o impulso proporcionado pelo corpo, vencer a gravidade.
Mas ele resiste e, de uma forma que me surpreende, alcança o alto da ladeira sem se erguer, sentado como se estivesse sentado numa cadeira.
Tenho um impulso de interceptá-lo para cumprimentá-lo mas me detenho.
Ele é muito rápido e, mal supera o obstáculo, já segue adiante.
Mas dois aspectos me chamam muito a atenção.
Ao primeiro já me referi. O nosso herói é gordo, bem longe de qualquer modelo de atleta.
Segundo, sua bicicleta é extremamente precária e , enquanto subia, a correia ia escapando das pinhas como que se negando a participar daquele esforço.
Aliás, num dado momento, quando já chegava ao topo da ladeira e demonstrava disposição física para não parar, foi uma insuficiência mecânica que mais comecei a temer.
Enfim, no entanto, homem e máquina superam as dificuldades e, juntos, seguem triunfantes.
sábado, 26 de janeiro de 2008
Calibrando os pneus
O leve sussurrar dos pneus contra a pavimentação me faz suspeitar que estão com pouca pressão.Mas ando sem bomba, terei que esperar até chegar a meu destino, uma oficina mecânica, para verificar isto.
Aliás, devo confessar que vou lá para tratar de meu veículo motorizado.
Afinal, ninguém é perfeito.
Neste momento,porém, o mais importante é avançar contra um vento leve que me exige pedalar com um pouco mais de energia.
Aproveito para ir fazendo algumas reflexões sobre minha bicicleta.
O selim é meio duro, os punhos do guidão igualmente, dou-me conta que a pretender pedalar mais, preciso ter mais conforto e, igualmente, mais eficiência.
Afinal, nada contra a tecnologia que tem sido aproveitada de forma tão decidida pela indústria de bicicletas.
O pensamento que talvez fôsse necessário ter presente, no entanto, é que estas melhorias, além de via de regra implicarem em custos bastante altos, não substituem e, talvez apenas complementem, as melhorias e os avanços que fundamentalmente são necessários na infraestrutura viária para as bicicletas.
Como justificar, por exemplo, a necessidade de amortecedores e pneus largos para transitar dentro da área urbana?
A idéia que fica ao se ver a prioridade que acessórios deste tipo passam a ter no equipamento das bicicletas, é de que as bicicletas devem estar preparadas para provas de obstáculos em meio a trilhas as mais difíceis.
Novamente, assim,fica evidenciado o modo como em nossa cultura tendemos a tomar o acessório pelo essencial, a parte pelo todo, o boato pela verdade, a retórica pelo discurso e o exibicionismo pela atração.
Bem, chego ao meu destino e trato de dar umas poucas libras a mais nos pneus antes de voltar.
Só que, desta vez, já não posso mais ouvir o sussurrar dos pneus a marcar o ritmo de meu pedalar.
Acho que vou esvaziá-los de novo...
Aliás, devo confessar que vou lá para tratar de meu veículo motorizado.
Afinal, ninguém é perfeito.
Neste momento,porém, o mais importante é avançar contra um vento leve que me exige pedalar com um pouco mais de energia.
Aproveito para ir fazendo algumas reflexões sobre minha bicicleta.
O selim é meio duro, os punhos do guidão igualmente, dou-me conta que a pretender pedalar mais, preciso ter mais conforto e, igualmente, mais eficiência.
Afinal, nada contra a tecnologia que tem sido aproveitada de forma tão decidida pela indústria de bicicletas.
O pensamento que talvez fôsse necessário ter presente, no entanto, é que estas melhorias, além de via de regra implicarem em custos bastante altos, não substituem e, talvez apenas complementem, as melhorias e os avanços que fundamentalmente são necessários na infraestrutura viária para as bicicletas.
Como justificar, por exemplo, a necessidade de amortecedores e pneus largos para transitar dentro da área urbana?
A idéia que fica ao se ver a prioridade que acessórios deste tipo passam a ter no equipamento das bicicletas, é de que as bicicletas devem estar preparadas para provas de obstáculos em meio a trilhas as mais difíceis.
Novamente, assim,fica evidenciado o modo como em nossa cultura tendemos a tomar o acessório pelo essencial, a parte pelo todo, o boato pela verdade, a retórica pelo discurso e o exibicionismo pela atração.
Bem, chego ao meu destino e trato de dar umas poucas libras a mais nos pneus antes de voltar.
Só que, desta vez, já não posso mais ouvir o sussurrar dos pneus a marcar o ritmo de meu pedalar.
Acho que vou esvaziá-los de novo...
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
Confissões
Queria me inspirar mas confesso que encontro dificuldades. Queria que minha cidade e a sua cultura, os seus costumes, os seus valores, olhassem com mais carinho e mais cuidado para os ciclistas e entendessem melhor o que eles podem representar de positivo, de saudável e até mesmo de divertido e poético para todos nós seus moradores.
Vejo, no entanto, que há barreiras a este entendimento, a esta compreensão.
Por isto, quando pedalo, sinto-me muitas vezes meio solitário.
Embora centenas, milhares de outros ciclistas também pedalem pelas ruas, muitas vezes não sinto que nos una mais do que a necessidade premente de nos deslocarmos a um custo que seja o mais baixo possível.
Não me dá a impressão de que os ciclistas que encontro estejam felizes.
A grande massa dos que pedalam, pelo menos em minha cidade, estão indo ou voltando do emprego e, tanto no emprego que tem ou na casa para qual retornam, são muitas as dificuldades que encontram e parte destas preocupações, certamente, viajam com eles de carona.
Além disto sua atenção tem que estar permanentemente tão requisitada para não serem atropelados e não perderem a própria vida, que parece haver pouco tempo para usufruir da incrível sensação de liberdade de pedalar.
Não queria que este fôsse um registro triste até porque falar de ciclismo e de bicicletas sempre me anima muito, mas não posso evitar.
Nestes momentos, de qualquer forma, me consola e me dá ânimo saber que em minha cidade e em outras cidades pelo mundo todo, muitos ciclistas e muitos amantes de bicicletas, superam as adversidades e lançam-se às ruas sózinhos ou em pequenos ou grandes grupos, às vezes em eventos organizados ou em manifestações, impulsionando seus veículos mágicos como quem impulsiona a própria esperança
Vejo, no entanto, que há barreiras a este entendimento, a esta compreensão.
Por isto, quando pedalo, sinto-me muitas vezes meio solitário.
Embora centenas, milhares de outros ciclistas também pedalem pelas ruas, muitas vezes não sinto que nos una mais do que a necessidade premente de nos deslocarmos a um custo que seja o mais baixo possível.
Não me dá a impressão de que os ciclistas que encontro estejam felizes.
A grande massa dos que pedalam, pelo menos em minha cidade, estão indo ou voltando do emprego e, tanto no emprego que tem ou na casa para qual retornam, são muitas as dificuldades que encontram e parte destas preocupações, certamente, viajam com eles de carona.
Além disto sua atenção tem que estar permanentemente tão requisitada para não serem atropelados e não perderem a própria vida, que parece haver pouco tempo para usufruir da incrível sensação de liberdade de pedalar.
Não queria que este fôsse um registro triste até porque falar de ciclismo e de bicicletas sempre me anima muito, mas não posso evitar.
Nestes momentos, de qualquer forma, me consola e me dá ânimo saber que em minha cidade e em outras cidades pelo mundo todo, muitos ciclistas e muitos amantes de bicicletas, superam as adversidades e lançam-se às ruas sózinhos ou em pequenos ou grandes grupos, às vezes em eventos organizados ou em manifestações, impulsionando seus veículos mágicos como quem impulsiona a própria esperança
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