domingo, 20 de dezembro de 2009

A Bela e a Fera

Confesso que, no primeiro momento, não fazia idéia do que significava a expressão do cartaz. Depois descobri que é coisa de moda e de mulheres. Mas o que me chamou a atenção foi a conjunção da Bela e da Fera e a provocação que me pareceu estar no ar.

Os significados, as ambiguidades.

Pedalar com a imaginação, com a criatividade. Não apenas "ralar" com o corpo físico, os músculos, mas deixar a mente também viajar, vencer desafios, deixando-se levar pela sedução.

E aguardar que outros encontros com a "Bela", menos efêmeros e menos ocasionais , talvez até mais materiais do que este no meio da estrada, possam acontecer.

(foto Desafio Costa Doce)



quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A Primeira Bicicleta

Com a proximidade do Natal saí a vasculhar anotações para encontrar alguma coisa dentro do espírito que todos procuramos evocar nesta época. Só encontrei, no entanto, textos fragmentados, pensamentos esparsos e um pouco melancólicos, inadequados ao momento. Lembrei-me, então, de buscar referências de outros Natais mas, tampouco, achei algo que me satisfizesse. Além disto queria alguma coisa nova, escrita neste Natal.
Deparo-me, então, com a foto acima, de um menino conduzindo pela mão sua pequena bicicleta.
Pareceu-me, de imediato, muito adequada ao sentimento de esperança, de pureza, de amor que o Natal ainda consegue, mesmo que escassamente, fazer aflorar.
A bicicleta sempre esteve intimamente associada aos sonhos que deixamos, quando crianças, para o Papai Noel tornar realidade.
Dificilmente outro presente tem na nossa infância tanto encanto e apelo quanto a bicicleta.
Dar as primeiras pedaladas na bicicleta nova, na manhã seguinte à noite de Natal, é uma experiência como poucas nas nossas vidas, experiência de liberdade, de poder e controle sobre o meio físico que nos rodeia, de encantamento.
Próxima talvez apenas, pela emoção, à experiência de ganhar um animal de estimação.
Por isto dedico esta breve crônica aos pequenos e aos puros de coração que guardam dentro de si a criança que brincava de bicicleta muito antes de pensar em ter o primeiro carro, muito antes até mesmo, de pensar em ter a primeira namorada.
Feliz Natal!

domingo, 15 de novembro de 2009

As Bicicletas de Minha Vida

A história das bicicletas de minha vida talvez seja um pouco modesta.

À exceção da primeira, uma Monark, uma relíquia que preciso restaurar e que ganhei de meu pai ainda menino, as demais comprei usadas ou foram "adotadas". Pela ordem uma Caloi 10, azul, uma segunda Caloi de alumínio, usada, que me foi roubada e uma terceira, uma modesta Speed, adotada, que acabou se tornando a bicicleta de meu uso.

Na verdade, à exceção talvez da Monark, não posso dizer que tenha me apaixonado perdidamente por qualquer uma delas embora, hoje, tenha um grande carinho por todas. A que me foi roubada, por exemplo, sempre me lembro dela e tenho um sobressalto cada vez que vejo passar uma igual na rua.

Talvez por isto ainda namore os anúncios de bicicletas que aparecem nos jornais. Mas sempre me pergunto se devo me lançar a uma nova aventura amorosa. Confesso que tenho uma leve queda pelas reclinadas e as dobráveis, mas me contenho.

Até porque, nestes momentos, dou-me conta que devo dar mais atenção à minha Speed que entrou na minha vida doada por uns parentes que já não a queriam. Afinal tem sido minha companheira fiel nestes últimos anos e se nunca nutri nenhuma paixão louca por ela, aos poucos tenho percebido sua dedicação, sua fidelidade e por aí tem nascido em mim um reconhecimento, uma espécie de carinho em que se mistura gratidão mas também, devo admitir, pouco a pouco também um certo enlevo, uma certa atenção aos seus encantos simples.
Teriam, talvez, apenas que ser realçados.

Não descarto me envolver com outras bicicletas mas, neste momento, esta bicicleta já merece um lugar definitivo em minha vida e até por uma espécie de compromisso, não surpreeenderia se me mantivesse eternamente fiel.
O amor, enfim, tem caminhos que só aos poucos, por meios que não esperamos, acabamos por descobrir.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Bicicletas Anônimas

Sob o título acima a amiga e leitora de São Paulo, Susi Aissa ( com quem mantenho um acirrado debate sobre o fumo, que ela defende) decide fazer em seu blog uma alusão a Ciclistas Anônimos. Em viagem pela Rússia e Europa Central inclui algumas fotos de bicicletas, todas muito interessantes. A que aparece acima é de Viena e dá margem a várias leituras. Fica o convite à participação de quantos queiram manifestar sua visão. Inevitavelmente, é claro, a presença da corrente já conduz para determinados caminhos interpretativos. Mas serão caminhos que levam à liberdade ou que prolongam o encarceramento?

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Um Sonho

Acordo-me, no meio da noite, com uma sensação indefinida.
Devia estar no meio de um sonho pois algumas lembranças estavam ainda bem presentes como se tivessem a ver com acontecimentos recentes.
Mas eram, também, lembranças meio confusas como costumam frequentemente serem as lembranças de sonhos.
Uma coisa, no entanto, parecia fora de dúvida.
Em meu sonho havia bicicletas, muitas bicicletas.
Mas as situações em que estavam presentes eram diversas.
Algumas lembravam a infância pois apareciam bicicletas pequenas, algumas até com rodinhas laterais para ajudar o equilíbrio. Havia vozes, vozes de outras crianças, quase um alarido em meio ao qual em certos momentos, ao fundo, ouvia alguém, que pela voz parecia ser minha mãe, chamar meu nome
Noutras eram bicicletas "exóticas" com dois lugares, ou de uma roda só, como as de circo, ou uma roda bem grande acompanhada de outra pequena. De novo podiam-se ouvir vozes, mas agora totalmente indistintas como as de uma grande platéia.
Já em outras situações apareciam grandes aglomerações de bicicletas como se estivessem a ponto de ocupar o mundo ou, caso oposto, bicicletas solitárias ou abandonadas e, neste caso, nada se ouvia pois se fazia um grande silêncio.
Mas o que mais me deixou perturbado foi a visão de uma espécie de galpão dentro do qual se espalhavam bicicletas diversas penduradas no teto ou, simplesmente, amontoadas umas sobre as outras.
A princípio poderia parecer uma oficina mas a forma como apareciam dispostas, como se aguardando alguma coisa, algum acontecimento, concedia ao quadro uma atmosfera de filme noir.
Ainda tentei entender do que se tratava. Algum lugar que conhecesse mas cuja lembrança não me vinha?
Ou uma espécie de alucinação onírica que podem surgir no mundo próprio dos sonhos?
Ou alguma outra coisa, uma premonição, uma profecia?
Sem ter respostas para estas dúvidas acho que voltei a dormir.
Mas em algum lugar dentro de nosso mundo as bicicletas de minha visão continuavam lá, à espera de serem chamadas para a missão a qual teriam sido destinadas ( foto Nicoamano, Malta)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Pedalando Junto

Já não pedalo sozinho.
Mesmo quando circulo com minha modesta bicicleta pela rua sem ter ninguém ao meu lado, sinto a presença de meus leitores, lembro-me de seus comentários e tenho a confortadora sensação de que não estou sózinho.
Olho para os lados, à frente, à esquerda e à direita, atrás de mim, e vejo companheiros de pedalada, que se tornaram "seguidores".
Dou-me conta de que, anônimos ou não, somos muitos e que, portanto, nossa solidão pode ser superada através da comunicação, da palavra, em particular da poesia.
Alguns, inclusive, através de seus comentários, identifico bem.
E me sinto agradecido.
Animo-me também a ter um cuidado especial com a bicicleta, minha companheira, buscando encontrar em sua pintura um pouco gasta, um brilho especial, e encorajado por estas companhias, a espichar o meu passeio.
Em certos momentos até, devo confessar, me imagino pedalando sem vontade de voltar, sem outro destino do que avançar convictamente , movido apenas pela força de minhas pernas, rumo da superação das limitações materiais e rumo da eternidade.
Me imagino, porque logo após, algumas quadras adiante, dou uma virada no guidão ( ou é minha bicicleta que dá por conta própria, não sei bem precisar) e retorno para as pequenas certezas de minha casa. ( foto Sergio Di Ponzio, Itália)

sábado, 19 de setembro de 2009

"Bike"

Sob o título “Bike”, o fotógrafo norte-americano Aref Nammari se dizendo motivado por meu interesse me dedica a foto acima a respeito da qual escrevi : “ gostaria de entender melhor porque bicicletas são tão atrativas. Terá algo a ver com sua simplicidade, com sua elegância? Bicicletas são sempre tão “magras” como se desenhadas a bico de pena... Neste caso particular há ainda a contribuir com estes elementos um refinado toque de abandono, de mistério...”
Em resposta Aref escreveu: “ Bicicletas são maravilhas de engenharia. Mas não apenas isto pois quem pode esquecer a emoção da infância e o sentimento de realização e liberdade quando finalmente temos o domínio de pedalar? Um dia pedalando do trabalho fui pego por uma tempestade sem relâmpagos, apenas chuva forte. Inicialmente eu fiquei desanimado porque resultei todo encharcado. No entanto, este desânimo rapidamente se dissipou e eu voltei aos tempos quando criança pedalava não me importando muito se estava extremamente quente ou chovendo torrencialmente. Será por isto que quando adultos amamos bicicletas?”

sábado, 29 de agosto de 2009

Ciclista Atemporal

Por um momento, na tarde ensolarada, o tráfego intenso de veículos se interrompe.
O ciclista aproveita, exatamente em um ponto onde ocorrem com frequencia acidentes de certa gravidade, para atravessar a rua.
Com muita calma, como se estivesse numa pequena cidade do interior.
Ou como se, a exemplo de Moisés, apartando as águas do Mar Vermelho, tivesse o caminho livre para avançar a salvo.
Mas não é só o tráfego que parece ter se interrompido.
É a própria atividade do Bairro.
O próprio Tempo.
De tal modo que deste momento só ficará este breve registro sem data.
Como única referência da hora do dia apenas a luz da tarde que cai projetando grandes sombras.
O ciclista, pincelando de azul este cenário, parece ainda definir seu rumo. Mas por um instante, mantendo-se no anonimato, torna-se o centro do universo, eterniza-se e, atemporal, se faz para sempre imortal.

sábado, 8 de agosto de 2009

Pedalando na Chuva



Acordo com uma vontade enorme de pedalar.
Motivado pela leitura, durante a noite, de aventuras arrojadas de ciclistas que se superam vencendo toda sorte de obstáculos, levanto com a determinação de engajar-me nesta espécie de cruzada de coragem, resistência física e destemor.
Deparo-me, no entanto, já no primeiro momento, com a constatação até aquele momento imprevista de que está chovendo.
Mas, então, digo para mim mesmo, aí está o desafio! Já ouvi a defesa de se pedalar no frio, já comentei até a respeito de pedalar sobre as águas, leio constantemente relatos de pedaladas em desertos, montanhas, sob condições as mais duras, pedalar na chuva sendo assim, é como um passeio.
Reanimado por este pensamento, tomo minha capa emborrachada, de capuz, coloco um calçado impermeável e pronto!, sinto-me apto para curtir uma pedalada sob a chuva.
Pego minha bicicletada e chego ao portão de casa assoviando "Cantando na Chuva".
Na rua, talvez por ser sábado e o dia nublado e chuvoso, pouco movimento.
Poucos carros, apenas alguns transeuntes esparsos passando sob os guarda-chuvas.
Embora a chuva não seja forte, a umidade é muito grande, típica de nossa cidade e, como sempre, desagradável.
Bem, mas só me resta subir na bicicleta e sair pedalando.
É neste momento que me dou conta de que não tenho exatamente um destino.
Moveu-me, até este instante, apenas a vontade de sair pedalando sem maiores considerações.
Agora, no entanto, a falta de um objetivo mais claro, paralisa-me.
Passo a notar também que minha pobre bicicleta não tem nenhum tipo de proteção. Vai ficar molhada e como não tem paralamas as rodas vão jogar água para cima.
Talvez fosse o caso de adotar algum tipo de sistema adequado.
Nada disto, contudo, procuro me convencer, pode me deter.
Nem mesmo o cheirinho de café sendo passado que vem de dentro de casa ou a lembrança de que a lareira ficou acesa.
Por outro lado não consigo me mexer como se estivesse paralisado.
Começo a negociar comigo mesmo um trajetinho bem curto, uma volta na quadra por exemplo. Só para sentir o gostinho de pedalar na chuva.
E é isto que estou pronto a fazer quando levado por um impulso tão súbito quanto o que me fizera tomar a decisão de sair, desisto da idéia e retorno para dentro de casa.
É claro que não estou muito confortável, um sentimento de culpa a percorrer meus pensamentos.
Mas dura pouco.
Ao chegar à cozinha ouço dizer:
- Onde andavas? O café está pronto, vai esfriar... e me agarro, neste momento, à convicção de que agi da forma certa.
Café frio, é preciso convir, não é nada delicioso...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Pedalando Sobre as Águas

Homens de pouca fé que não acreditais em milagres!
Vede e crede!
Ciclistas desanimados, descrentes que os administradores das cidades lembrem-se de vós e vos dêem condições de pedalar pelas ruas em segurança!
Se um ciclista pode pedalar sobre as águas, como nossos olhos ainda incrédulos podem ver, ciclovias podem ser feitas, ciclofaixas, bicicletários, enfim tudo que a pouca fé desacreditava.
Tende apenas que ter crença, muita crença e, sobretudo, rezar muito, orar muito diante das imagens destes senhores, políticos na maior parte. Em troca como oferenda nem pedem tanto, talvez apenas vossas espontâneas intenções de voto.
Sabemos que promessas, doutras vezes, já foram feitas.
Mas, agora, um milagre pode tornar tudo diferente.
E, iluminados por uma luz divina, talvez finalmente um pouco de entendimento os alcance e convertidos ao nosso evangelho nos acompanhem a divulgá-lo aos quatro cantos, pedalando pelas ruas do mundo. Amém. ( foto Mat Fot)

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Pedalando no Frio

As notícias são alarmantes. A gripe A (a mesma "suína" ou "porcina" para os castelhanos) entra no Rio Grande do Sul de mãos dadas com uma frente fria que afirmam ser a mais rigorosa depois de muitos anos.
Temperaturas próximas de zero ou mesmo negativas.
Sensação térmica? Não dá nem para sentir quando as extremidades ficam como pedra e tudo que se busca é um canto onde se aquecer.
Cheguei a pensar: " que dia desafiador para pedalar... " mas, me encontrando na frente da lareira, esta idéia não progrediu muito.
Lembrei-me, então, de buscar minha bicicleta para compartilhar do calor do fogo.
Afinal, ela devia estar também sentindo muito frio.
Trouxe-a, portanto, e a deixei, apoiada no descanso, ao meu lado em frente à lareira.
Ficamos ali um bom tempo, pensando no verão distante mas, também, nos ciclistas e bicicletas anônimos que tenham de enfrentar a noite gélida para chegar aos seus destinos.
E enquanto permanecíamos próximos do fogo, a comunhão que sinto com minha bicicleta alcançou um grau ainda mais elevado ao ponto de que, em deteminados momentos, tinha uma espécie de sensação de que ela acompanhava meus pensamentos e, à sua maneira, sem deixar de ser máquina, tornava-se quase uma peça dotada de sensibilidade e de espírito.
Ou será esta impressão tão somente resultado das visões que, ao estar ao lado do fogo na noite mais fria da década, perpassam em frente aos nossos olhos hipnotizados pelas chamas?
Vou ficar nesta dúvida...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Seguidores Apóstolos

Quando surgiram os primeiros seguidores de Ciclistas Anônimos confesso que me surpreendi.
Seriam como uma espécie de apóstolos?
Entre eles já estava o Poti Campos que se converteu ao ciclismo como Paulo de Tarso ao cristianismo. Poti relata, em alguma parte de seus escritos, como isto ocorreu, ou seja, como foi a sua estrada de Damasco.
Neste meio tempo foram surgindo outros seguidores até chegar aos atuais onze:Horacio,Victor Teramoto, Rejane, Poti Campos, Fernanda Tomiello, Maria Sandra, Luis Patricio, Indira, Gilda Viegas, Elen e Eduardo Kohlrausch.
Falta um para serem doze e completar o número de apóstolos.
Nossa missão?
Sair pregando o evangelho do pedal, ir espalhando a boa nova de que existe salvação para o mundo, para a poluição, para a desgraça que se abate sobre nossos corações em meio ao congestionamento do tráfego nas grandes e médias cidades.
Deixo o Horacio ir na frente, como o mais arrojado, sinalizando com a mão cada vez que vai dobrar para a direita ou para a esquerda pedalando na frente de um pelotão de automóveis. Aliás, presenciando isto, já tive a forte impressão de que os carros todos iriam seguí-lo como se estivessem sendo pastoreados.
O Poti pode escrever um dos Evangelhos.
Eu, como não quero ser Cristo nem crucificado, creio que fico com a missão de escrever um outro Evangelho.
Resta saber o que fariam a Fernanda e os outros que nos seguem. Uma primeira missão, aliás, é converter o Guto, o Gian e o Sandro que não estão entre nós. O Marcus Cunha também.
Por fim, precisamos de um milagre.
Talvez alguém, com estes dotes, possa sair andando de bicicleta sobre as águas...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A Bicicleta Na Minha Esquina

Ao sair de casa deparo-me, na esquina, com esta bicicleta.
Verifico que está cuidada, com indícios, até pelo modelo, de poder tratar-se de uma bicicleta feminina , mas está sózinha, presa por um cabo com cadeado, ao suporte da placa de sinalização.
Seu dono ou dona, tudo indica, afastou-se para fazer alguma coisa, talvez até comprar algum medicamento na farmácia em frente.
A bicicleta, enquanto isto, companheira, aguarda quieta, sossegada, até seu retorno.
Ocorre-me que os cães e as bicicletas, talvez se possa dizer, sejam os melhores amigos do homem.
Não exigem muito, o que significa que podemos mantê-los com pouco. Têm a capacidade, quando não lhes damos muita atenção, de ficarem em um canto, sempre prontos, no entanto, a nos atender quando lembramos que estão por perto.
Mas voltando à bicicleta, simpatizei tanto com ela que pensei até em esperar pelo dono.
Queria cumprimentá-lo, dizer-lhe: " que bela bicicleta você tem, tão obediente!..."
Mas eu estava com pressa.
Disse tchau para a bicicleta e segui adiante.
Já mais distante olhei para trás e percebi que alguém se aproximava da bicicleta.
Seria um ladrão?!
Enquanto fiquei por um instante acompanhando a cena, a pessoa começou a livrar a bicicleta da placa.
Procurei então me aproximar para acompanhar melhor e só então, já mais perto, pude perceber que se tratava de uma mulher com os cabelos presos e boné.
Ainda tentei chegar mais perto ,com a intenção de tentar dizer-lhe alguma coisa, mas a oportunidade já passara.
Com a bicicleta já solta pôs-se de pronto em movimento com firmes pedaladas.
E como veio em minha direção constatei que era não só uma mulher, como percebera à distância, mas, além disto, muito atraente.
Quase salto à sua frente para dizer: "eu também sou um ciclista" mas já era tarde.
Passou por mim sem me perceber e foi logo se afastando perdendo-se de vista.
Meio desapontado prometi a mim mesmo, da próxima vez, olhar melhor pela volta quando encontrar uma bicicleta solitária aguardando que a venham buscar.
Tampouco posso me impedir, desde então, de espiar na esquina para ver se a bicicleta não voltou a aparecer...

terça-feira, 28 de abril de 2009

"O Ciclista" de Fernando Weno

Em meio às minhas incursões ciclísticas, encontro Fernando Weno que, entre vários desenhos, detém-se por um momento a representar um ciclista.
Com poucos linhas o artista reproduz com traços sutis a atmosfera a um mesmo tempo poética e evocativa da riqueza do mundo do ciclismo.
Decido denominar seu trabalho, reproduzido ao lado, "O Ciclista".
Poderia intitular também "Ciclista Segurando a Bicicleta" ou " A Pausa do Ciclista". Enfim, já que o artista não deu um título, começo a buscar algum tirado de minhas conclusões.
Atrai-me também a postura aparentemente descontraída do ciclista.Parece aguardar alguma coisa ou então, simplesmente, estar fazendo uma pausa em sua pedalada.
Algo que, por outro lado, só pode ser consequência de minha imaginação, é a impressão que tenho do desenho estar associado a uma cena antiga.
O capacete, diferentemente dos atuais, coloridos, futuristas, parece uma espécie de pequeno elmo ou, melhor, um gorro ornado por uma pena que se inclina para trás!
A bermuda, em minha imaginação repito, lembra-me um culote.
Liberdades que, afinal, a arte nos permite e que a bicicleta, companheira de nossas divagações, nos induz.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Sarkozy, "O Ciclista"


Temos o costume de nos admirar quando vemos alguma "personalidade" (leia-se: pessoa que aparece muito nas notícias) pedalando numa bicicleta. Sentimo-nos como se a bicicleta, naquele momento, estivesse sendo valorizada. Mas podemos estar incorrendo, ao pensarmos assim, numa grande ingenuidade.

Via de regra estas "personalidades", políticos sobretudo, só sobem numa bicicleta para "aparecer na foto" e não é difícil ver, em muitos casos, a enorme falta de familiaridade com o veículo.Confesso que tais cenas me deprimem e me sinto até desencorajado de pedalar por algum tempo. Imaginem Paulo Maluf se vangloriando de ser ciclista! Seria a desonra do ciclismo.

Mas temos que estar preparados para tudo. À medida que se aproximar a eleição do próximo ano e com a inclusão do ciclismo na pauta do debate das cidades, apostaria que vão surgir vários ciclistas de última hora. Não se surprendam se Dilma Rosseti aparecer, depois da cara nova, pedalando na inauguração de uma ciclovia do PAC. Ou se José Serra, muito desajeitado, inventar de se equilibrar encima de uma magrela. Aqui em Pelotas, não faz muito tempo, tivemos o caso de um prefeito que percorreu um trecho da avenida do Laranjal, pendurado encima de uma bicicleta a qual, coitada, deve ter vivido momentos de intranquilidade com a perspectiva de um tombo.

Mas, como disse, os exemplos já surgem com frequência e prometem se multiplicar. Um bem recente refere-se ao que foi noticiado como a visita de Sarkozy à sua mulher Carla Bruni. A foto registra este momento.Que romântico! Só falta o político francês estar empunhando um ramilhete de flores.

Mas pela indumentária bem se vê que se produziu muito bem para a ocasião. Fica até a dúvida se não se trata de um comercial de vestuário pois a foto parece ter saído diretamente de uma revista de moda.
Toda esta propaganda "ciclística" não impede no entanto do francês ser captado sob olhares críticos. A "charge" que reproduzo, satirizando Sarkozy, aponta para os tombos aos quais se está sujeito ao pensar que pode fazer da bicicleta, como temos visto alguns políticos se inclinarem, um mero instrumento de sua demagogia.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Um gaúcho ciclista

Estou de novo de volta a Tapes e, de novo, em razão dos barcos.
Mas minha atenção não se desvia muito das bicicletas.
Novamente me extasio com o emprego absolutamente tranquilo que os habitantes fazem da bicicleta.
Não me detive neste detalhe mas tenho a impressão de que nem mesmo colocam cadeado quando deixam as bicicletas nos estacionamentos existentes por toda parte.
E como não posso deixar de exercitar meu cicloativismo, chama minha atenção a tentativa que um homem, com ares de gaúcho, um gaúcho de bermuda, faz para colocar sua bicicleta dentro de um ônibus.
Fica bem evidente que a bicicleta é essencial para sua vida, para lhe dar condições de se transportar, seja aqui onde se encontra, seja no lugar para onde pretende ir levando-a como a uma companheira.
Aproximo-me e verifico que, pelo menos da maneira como esta tentativa está sendo feita, há alguma dificuldade em ter êxito.
O gaúcho ciclista insiste que já transportou a bicicleta antes, de que é possível.
O encarregado do ônibus mostra-se cético e dá a impressão de que vai decretar a impossibilidade.
É quando, por alguma razão, pareceu-me até que para conversar com alguém, talvez seu superior, o encarregado se afasta.
Pressinto que vai voltar com uma decisão negativa, desta vez respaldado pela autoridade de um chefe, apenas para parecer que não está agindo arbritariamente.
Decido, então, intervir.
Aproximo-me e junto com o ciclista , com seu jeito agaúchado, vamos tentando daqui, tentanto dali, até que a bicicleta consegue ser acomodada!
O "gaúcho" me agradece e se encaminha para subir contente no ônibus.
Fico até um pouco emocionado e me sinto como se tivesse cumprido minha missão.
Afinal ciclista é para ser unido e tinha acabado de ajudar um ciclista anônimo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

"Como é linda a liberdade"

O leitor de Ciclistas Anônimos, Zeca Baronio, escreve esta pequena crônica que nos parece dentro do espírito do espaço. Transcrevo:
Deu vontade de postar essa imagem.
Eu ando meio ciclo-chato. Ando tendo muitas ciclo-idéias. Quem me conhece sabe que quando conheço uma causa e acredito nela, vou com ela até o fim. Será que a bicicleta está me dominando de tal forma?
Tô só esperando meu ciclo-transporte voltar da revisão geral para, a partir da próxima segunda, pedalar 40 Km diários até o trabalho e volta. Um bom exercício… que tal? Chega de busum! Chega de suvaco fedido, roleta e sonolência.
Meu único medo é o horário de pico, na qual terei que disputar espaço com ônibus e carros, alguns deles apressados demais.
Riscos fazem parte da vida, aliás, o que seria da vida se não fosse a emoção dos riscos diários? Tem gente que tem carro, tem gente que tem moto, eu escolhi a bicicleta.
Meus velhos amigos provavelmente devem estar achando que o Zeca mudou, que virou um esportista.
“Aqui com arroz”! Não estou deixando de ser um amante da música e nem da boemia.
Apenas redescobri o quão bom é estar sobre duas rodas, coisa que eu fazia muito quando era piá.
Quem acompanhou este blog, sabe que sempre fui “verde”, e que maneira melhor de dar o exemplo se não sobre a magrela?
Resolvi simplificar um pouco a minha vida.
Resolvi ir de bicicleta.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Bicicleta e Fotografia

Este é o tipo de foto (Fernanda Tomiello) que me faz pensar, não sei se primeiro na Fotografia e depois na Bicicleta, ou se o contrário, ou se nas duas coisas ao mesmo tempo.
Da fotografia poderia dizer, por exemplo, que capta com o oportunismo que deve ser uma virtude do fotógrafo, um momento de especial expressão.
A cor vermelha do quadro, acrescenta um elemento que enriquece, pelo detalhe, o conjunto da foto.
Da bicicleta me ocorre comentar que se mostra naquilo que é a sua essência, a de ser um instrumento de trabalho do homem, uma espécie de ferramenta especial, obtida pela aplicação da tecnologia, e levada, no momento da foto, consigo, pela mão, como uma filha, uma companheira. Esta parceria, esta união, estão muito bem acentuadas quando o ciclista desce da bicicleta para poderem seguir avançando ladeira acima.
A bicicleta apresenta-se deste modo como bem mais que um objeto de consumo, às vezes até mesmo de luxo, ou um artigo que deva satisfazer à vaidade ou traduzir um status social.
Investida de uma dignidade que supera estas manifestações subalternas, sua presença representa, isto sim, algo que está incorporado à nossa cultura em vários níveis de intervenção, desde o transporte, quando se incorpora ao trabalho, passando pelo lazer, até chegar no domínio das artes e dos sentimentos.
Bicicleta e Fotografia caminham assim, pela mão do homem, para nos conceder um espaço de liberdade e conscientização.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Bicicletas do Interior

Enquanto nas cidades "grandes" ( Porto Alegre, Rio, São Paulo, etc.) os ciclistas lutam desesperadamente para garantir um espaço de circulação, em cidades pequenas, do "interior", este espaço parece ainda garantido. São Lourenço do Sul, a respeito da qual ainda me deterei melhor, mostra-se como um exemplo bem significativo desta situação.
Mas outros exemplos, por certo, poderiam ser apresentados.
Retornando de uma navegada , passo por Tapes e registro algumas cenas onde isto se evidencia.
Carros, pedestres e ciclistas, assim como outros eventuais usuários das vias, parecem conviver em harmonia. As bicicletas, inclusive, passam a fazer parte da paisagem urbana, tranquilamente estacionadas nas calçadas.
A foto ilustra uma destas cenas. Diante do prédio dos Correios, duas bicicletas disfrutam de toda a tranquilidade que o ambiente proporciona. Tranquilidade, claro, que deve ser sentida também por seus proprietários.
Estas cidades constituem-se assim em oásis ou paraísos onde refugiarem-se os ciclistas do estresse e da quase caçada vivenciada nos grandes centros.
Quem sabe investimos em reunirmos amantes do ciclismo em cidades como estas para passarem suas férias pedalando?